16/11/2005
Revendas continuam sem vacinas em diversos estados

Além dos focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e das incertezas em relação à presença da doença no Paraná, os pecuaristas têm que enfrentar agora outro problema: a falta da vacina, principalmente no interior do país. Segundo as distribuidoras, por conta do aumento da procura a entrega atrasou, em alguns casos, até dez dias.


"Ficamos uma semana sem receber uma gota de vacina. Devemos receber um novo lote somente na próxima quinta-feira. Os laboratórios não estão dando conta", disse a gerente da Multicampo Produtos Agropecuários, de Londrina, Ana Carolina Silveira. Segundo ela, em três dias foi vendido um volume equivalente a uma demanda de 15 dias em condições normais.


A principal preocupação é em relação ao prazo de término da campanha. No Paraná, ele se encerra no próximo dia 20.


A situação se repete em Uberlândia (MG). Segundo o diretor da Ruraltech Produtos Agropecuários, Leonardo Sorna, a demanda foi muito maior do que se esperava. "Em três dias vendemos 200 mil doses", disse. De acordo com ele, a revenda ficou dez dias sem receber a vacina. "Perdemos o cliente porque ele entra na loja e não encontra o produto. Por outro lado, o lojista não pode se arriscar a formar estoques porque a venda só é feita durante a campanha", ponderou.


"Para um distribuidor, isso é terrível porque a rentabilidade do produto é pequena. Para ganhar, precisamos fazer volume", ressaltou Henrique Costa Neto, da Boi Forte Produtos Agropecuários, de Goiânia. A dose é vendida, em média, com preços entre R$ 1 e R$ 1,05 e comprada dos laboratórios a um custo de R$ 0,92.


Segundo ele, a empresa só conseguiu ter um estoque de 200 mil vacinas porque negociou antecipadamente com os laboratórios. Cerca de 70% das vendas já foram realizadas. "Normalmente, apenas de 20% a 30% dos clientes compram antes do dia 15 de novembro. Neste ano, a situação se inverteu", relatou.


No Mato Grosso do Sul, onde foram identificados focos de aftosa, a procura disparou. O volume de pedidos cresceu 40% na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com o proprietário da Vetmais Produtos Agropecuários, de Campo Grande, Luiz Antônio Hortênsio. "Se tivéssemos 800 mil doses conseguiríamos vender", acredita. Porém, dificilmente a empresa vai conseguir negociar mais lotes com os laboratórios. "Devemos fechar com vendas de 600 mil doses no máximo. Até porque o cliente que veio até a loja e não achou o produto foi comprar em outra revenda".


O presidente do Sindan, Emilio Salani, classifica os atrasos de entrega de episódios "pontuais", provocados pela logística de distribuição, que, de acordo com ele, se concentra de segunda a quinta-feira.


Segundo as revendas, um volume muito grande de vacinas estaria sendo reprovado, atrasando a programação de entregas.


Além do aumento da demanda e da antecipação das compras dos pecuaristas, esse ano um dos principais fabricantes da vacina contra aftosa, o laboratório Vallée, que detém cerca de 12% do mercado, teve problemas para aprovar sua vacina no Mapa e não coloca seus produtos no varejo desde março desse ano. Procurada, a Vallée não retornou as ligações.


Salani também admite que a ausência da Valleé gerou impacto do mercado, mas disse que os demais laboratórios programaram aumento de produção. Atuam hoje nesse mercado empresas como Merial, Schering Plough, Bayer e Pfizer.


Com as lojas desabastecidas, algumas revendas sugerem que será necessário prorrogar o prazo de vacinação, que termina no final do mês na maioria dos estados. O Departamento de Sáude Animal do Mapa disse que vai avaliar caso a caso antes de tomar uma decisão.


Apesar de confirmar que a procura "surpreendeu", o Mapa descarta, no entanto, falta de vacina até o final da campanha. De janeiro até a última sexta-feira, foram vendidas 322 milhões de doses. Em todo o ano passado foram comercializadas 332 milhões. A previsão de produção para 2005 é de 380 milhões de vacinas. Em geral, segundo o Mapa, as indústrias e o governo trabalham com uma margem de segurança de estoques de 10%.


Fonte: Gazeta Mercantil (por Cristina Rios), adaptado por Equipe BeefPoint

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