29/6/2006
Ressurgimento da aftosa foi fardo pesado para ministro

O ressurgimento da febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná no fim de 2005 foi, sem dúvida, um dos maiores fardos para o ex-ministro Roberto Rodrigues em sua gestão à frente da Agricultura e revelou as fragilidades do governo para enfrentar a questão ao levar 59 países a embargarem as carnes brasileiras.

O episódio desgastou o ministro, que foi acusado, junto com sua equipe de defesa agropecuária do Ministério, de ter gerenciado mal a crise. O fruto dessa administração atabalhoada do problema é que os 59 países ainda mantêm os embargos, total ou parcialmente, ao produto brasileiro, entre eles os dois mais importantes clientes: Rússia e União Européia. No caso da UE, o bloco mantém o embargo à carne bovina de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. A Rússia reabriu as compras de carne bovina e suína apenas do Rio Grande do Sul e segue fechada para sete Estados.

Para analistas e fontes do setor de carnes, a disputa entre o Ministério e o governo do Paraná em torno da existência da aftosa no Estado, que durou mais de seis meses, atrapalhou a suspensão do embargo por parte de alguns clientes. A União Européia, por exemplo, chegou a avaliar a possibilidade até de ampliar o veto a todo o país - o que não se concretizou. Os motivos apresentados pela UE: dúvidas quanto à credibilidade das informações fornecidas pelo governo brasileiro sobre o controle sanitário, geradas pela confirmação tardia do foco no Paraná.

"Foi trágico", diz uma liderança do setor de pecuária, que pediu o anonimato, referindo-se à performance de Roberto Rodrigues no enfrentamento de problemas na área de sanidade. Para ele, a administração da crise da aftosa foi "muito ruim" tanto interna quanto externamente, daí o grande número de países suspendendo as carnes brasileiras.

Também não faltam críticas quanto à "dificuldade" do Ministério para gastar os recursos disponíveis no Orçamento para a defesa agropecuária. A pasta gastou apenas 21,66% dos recursos reservados para prevenção e combate das principais pragas e doenças no país em 2005. De um orçamento de R$ 170,980 milhões, foram aplicados efetivamente R$ 37,031 milhões.

Além de "não saber gastar", o Orçamento apertado para defesa agropecuária durante a gestão de Rodrigues é outro alvo de críticas. E o quadro deve permanecer este ano mesmo após a grave crise sanitária vivida pelo país, já que a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério sofreu um bloqueio de 59,2% do orçamento previsto para 2006. Com isso, as ações de defesa terão apenas R$ 89,7 milhões dos R$ 142,8 milhões aprovados pelo Congresso Nacional.

Antônio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), reconhece a dificuldade para obtenção de recursos para a defesa agropecuária no Orçamento e de "conscientização sobre a importância do agronegócio" no país, mas avalia que isso se deve a uma "visão de governo" e não à gestão de Rodrigues em si.

Ele lamentou a saída do ministro e elogiou o fato de Roberto Rodrigues ter "valorizado a decisão da área técnica" no episódio da aftosa no Paraná, apesar dos problemas políticos no Estado.

Ricardo Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), disse esperar que a saída do ministro não afete a liberação dos recursos - R$ 283 milhões - para o plano de prevenção contra influenza e a doença de newcastle, uma prioridade do setor de aves hoje.

Para Gonçalves, Rodrigues "poderia ter realizado mais" em relação à sanidade animal , evitando cortes no orçamento e trabalhando com "uma equipe mais forte". Ainda assim considera que o ministro fez "um esforço enorme" para solucionar a crise, apesar de todos os problemas.


Enviar para um amigo|Imprimir
Ver mais notícias em AgronegóciosCopyright Valor Econômico S.A. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Valor Econômico S.A..

Copyright Valor Econômico S.A. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Valor Econômico S.A..

Valor Online


Fonte: Olhar Direto

Voltar