10/5/2006
Agrofloresta no Semi-árido é tema de dia de campo

Na ocasião, os pesquisadores Nilzemary Lima da Silva e João Ambrósio de Araújo Filho mostrarão o Sistema de Produção Sustentável Agrossilvipastoril. O sistema é uma alternativa para unidades de produção de base familiar do Nordeste brasileiro e envolve atividades agrícolas, pastoris e silviculturais. A tecnologia, ecologicamente limpa, foi lançada oficialmente em abril, na V Ciência para a Vida, exposição realizada pela Embrapa, em Brasília.

O dia de campo faz parte do projeto “Sistema de Produção Sustentável Agrossilvipastoril: Tecnologias para o Semi-árido Nordestino”, financiado pelo programa Petrobras Fome Zero. O projeto, que tem como coordenadora a pesquisadora Nilzemary Lima da Silva, tem como objetivo difundir tecnologias sustentáveis do Sistema de Produção Agrossilvipastoril nas regiões de Mossoró-RN e Picos-PI. O trabalho de implantação do sistema e capacitação visa gerar oportunidades de emprego, reduzir o êxodo rural, aumentar a renda e sustar a degradação ambiental.

O Programa Petrobras Fome Zero aprovou, em 2004, 73 projetos nas linhas programáticas geração de emprego e renda; garantia dos direitos da criança e do adolescente e educação, qualificação profissional e emprego para jovens e adultos.

Sobre a tecnologia

O Sistema de Produção Sustentável Agrossilvipastoril consegue ao mesmo tempo conservar os recursos naturais, fixar o homem no campo, manter a sustentabilidade e aumentar a produtividade agrícola e pecuária. Segundo o pesquisador João Ambrósio de Araújo Filho, coordenador das pesquisas com o sistema, a tecnologia possibilita uma produção animal de 61 kg/ha ao ano, dez vezes maior que no modelo tradicional. A produção de grãos chega a 1.400 kg/ha ano, enquanto que a média do Ceará hoje não ultrapassa os 400kg/ha. Associado ao aumento da produção, é possível afastar o perigo da desertificação, que só no estado do Ceará ameaça entre 15% a 20% do território.

Outra vantagem do sistema é a fixação da atividade agrícola em um mesmo local, o que não é possível no modelo tradicional, em que, por conta do esgotamento do solo, a rotação entre as terras é intensa, promovendo a degradação de territórios cada vez maiores. Como conseqüência, restam no Ceará menos de 10% da vegetação original. Além das perdas da biodiversidade vegetal e faunística, o sistema tradicional promove grandes perdas do solo e o assoreamento dos cursos d’água. De acordo com João Ambrósio, só a erosão faz com que se percam cerca de 100 toneladas de solo por hectare ao ano no Ceará.

Para reverter este quadro de degradação, o Sistema de Produção Agrossilvipastoril copia ao máximo a natureza, preservando árvores, mantendo reservas de floresta nas propriedades e a mata ciliar dos cursos d’água. Nele, as árvores e arbustos são associados à agricultura e pecuária numa mesma área simultaneamente.

No modelo, a propriedade de oito hectares é dividida em três parcelas: agrícola, pecuária e reserva legal. Nas áreas pastoril e agrícola, é feito o raleamento da caatinga. O sistema permite a criação de até 20 ovelhas ou cabras ao ano. Isso evita a degradação por sobrepastejo, quando são mantidos animais em quantidade superior à capacidade do pasto.

Na área agrícola, a madeira útil é retirada e os garranchos são amontoados em cordões, separados pelo espaçamento de três metros. Ao lado dos cordões, são plantadas leguminosas, como leucena e gliricídia e as culturas de grãos, como milho e feijão, se encaixam nos três metros. O objetivo de intercalar as culturas com os cordões de garranchos, é evitar a erosão e manter o adubo verde para o solo.

O modelo mantém também as árvores nativas, que entre outras vantagens, evitam a erosão e o empobrecimento do solo. O grande desafio, de acordo com João Ambrósio de Araújo Filho, é convencer o agricultor, acostumado com a prática ancestral da coivara, a adotar um novo sistema. Para isso, os pesquisadores buscam ajuda de instituições que já tenham atuação junto aos camponeses.

O raleamento da caatinga

O raleamento da caatinga consiste em controlar as espécies lenhosas sem valor forrageiro, poupando as árvores e reduzindo o sombreamento e criando condições para o crescimento da vegetação rasteira. Isso aumenta a produção de forragem do estrato herbáceo, permitindo a criação de animais, como vacas, cabras e ovelhas. A preservação de cerca de 400 árvores por hectare nas áreas pastoris tem por objetivos a proteção do solo contra a erosão, a manutenção da circulação de nutrientes solo-árvores-solo, a produção de forragem e o conforto térmico para os animais. O sombreamento de 40% da área pelas árvores preservadas mantém amena a temperatura do solo e favorece a melhoria na qualidade da forragem e aumento da produtividade da pastagem.


Clube do Fazendeiro


Fonte: Olhar Direto

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