20/6/2013
CVM de olho em operações do JBS

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou a JBS na semana passada sobre operações com derivativos realizadas desde 2011. "[A autarquia] não tem conhecimento de nenhuma companhia aberta brasileira não financeira que utilize esses instrumentos com tamanho volume", afirma a CVM. O órgão regulador diz, ainda, que o volume de operações é associado a mudanças constantes de exposição ao risco de direcionamento (de comprado para vendido e vice-versa).
Para explicar as operações que realiza nesse segmento há pelo menos dois anos, a empresa reuniu seu conselho fiscal no dia 11, conforme ata do encontro divulgada ontem. De acordo com Rafael Harada, da diretoria de controle de riscos da JBS, os derivativos foram utilizados com o "intuito exclusivo de proteção patrimonial (hedge)". Além disso, Florisvaldo Caetano, conselheiro fiscal, informou que as transações com derivativos de 2011, 2012 e 2013 constam do objeto social da companhia e também estão dentro da política de gerenciamento de risco da JBS. Demétrius Macei, outro conselheiro, concordou com a posição.
A decisão do conselho da JBS foi que o material enviado pela CVM, bem como a assertiva da
Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários do órgão, será entregue a uma auditoria independente para que seja montado um trabalho específico sobre o assunto. O conselho da companhia terá, então, de aprovar o texto. O Valor apurou que, no documento encaminhado à JBS, a CVM não fez um alerta explícito sobre uma eventual situação de perigo envolvendo as operações.
O órgão mostrou preocupação com os volumes, mas também queria se certificar de que todos na empresa tinham ciência das operações com derivativos, já que em casos de companhias que recorreram a esses instrumentos nos últimos anos e sofreram com perdas, foi comum a alegação de que as decisões sobre as operações haviam sido tomadas sem o conhecimento de todos os responsáveis. Os derivativos despertaram as atenções do mercado em 2008 devido ao caso da Sadia. A companhia, na época, extrapolou a função de "hedge" das transações e arcou com um prejuízo total de R$ 2,48 bilhões no acumulado do ano.
A JBS opera com derivativos de diferentes tipos, como aqueles referenciados em dólar, taxa de juros, euro, libra, boi e milho. Mas são as variações cambiais da moeda americana que costumam explicar a maior parte de seus ganhos e perdas com esses instrumentos. Assim, com base nos dados desde 2009 é possível dizer que, quando o dólar cai, a empresa revela uma perda com suas operações de derivativos.
Quando sobe, como ocorreu recentemente, costuma existir um ganho. No segundo trimestre de 2012, por exemplo, o dólar subiu 11% e a empresa teve um ganho de R$ 615 milhões com derivativos. No segundo trimestre de 2009, quando o dólar caiu 16%, houve perda de R$ 491 milhões. E no terceiro trimestre de 2012, quando o dólar ficou estável em R$ 2,03, o resultado dos derivativos foi negativo em apenas R$ 16 milhões.
Na maior parte dos casos, as flutuações da conta de derivativos acabam neutralizando outros efeitos cambiais sobre ativos e passivos financeiros da empresa, como ocorre numa operação tradicional de proteção (hedge). Enquanto o dólar mais caro gera uma despesa contábil de variação cambial, o derivativo compensa esse efeito com um ganho de valor aproximado. Mas o casamento nem sempre é perfeito. Por vezes, a variação do dólar não é tão grande e, ainda assim, o resultado com derivativos é relevante – seja para cima ou para baixo.
Um dos motivos para isso é o fato de a JBS trabalhar com derivativos não apenas de dólar, mas também em outros instrumentos. E também por ela ter uma mesa de operações ativa para realizar as transações, em vez de apenas montar uma operação casada até o vencimento da posição ou da dívida em dólar. Ao fimde março, por exemplo, a empresa informa no balanço que tinha uma posição "comprada" com valor de referência de R$ 1,42 bilhão em taxa de juros prefixada por meio de contratos futuros na BM&FBovespa.
Embora posições como essas possam se mover a cada dia (o que significa que ela pode não ter mais esses contratos), isso implica risco de perda de recursos com alta da taxa prefixada, o que vem ocorrendo de forma relevante nas últimas semanas. Um aumento de 25% na curva de juros pré levaria a uma perda de R$ 354 milhões, segundo o balanço, que não expressa a partir de qual valor foi considerada essa variação de 25% (cita apenas "curva de mercado" na data). Não fica claro no balanço o motivo dessa posição ou como ela protegeria a exposição da empresa a empréstimos atrelados ao CDI, já que nos dois casos ela perde em um cenário de alta dos juros.


Fonte: informações do Valor

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