17/6/2013
A vida com a propriedade invadida

Valdemir Marques Rosa é um exemplo claro do drama vivido pelos produtores rurais de Mato Grosso do Sul diante das invasões de grupos indígenas a propriedades rurais. Há 13 anos, sua fazenda, de 500 hectares, em Dois Irmãos do Buriti (MS), que produzia laranja, tomate, soja e milho, foi tomada por índios Terena, que lá estão até hoje. Instigados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), como conta Valdemir e Débora, sua filha, que ajudava o pai a tomar conta da propriedade, eles não apenas expulsaram os verdadeiros donos do local, como queimaram tudo que tinha lá dentro e os ameaçaram. Com medo de uma possível represália, os dois foram para a casa da mãe de Valdemir. “Nem íamos para a rua. Ficamos com muito medo”, relata Débora.
Depois de um tempo, os dois se mudaram para a capital, Campo Grande, onde administram um pequeno mercado. No entanto, vivem em situação apertada financeiramente, muito diferente dos tempos em que viviam na fazenda. “Meu pai já foi o maior produtor de laranja da região. Tinha uns 16 mil pés”, conta a filha.
Daquela época, resta apenas a lembrança e a esperança de que um dia tudo irá voltar ao normal. Apesar de tudo que passaram, eles não culpam os índios. Dizem que são utilizados como massa de manobra pelo viés ideológico do CIMI e da Funai e também são vítimas deste processo. “O problema é o Governo, que devia ter uma política adequada para essas pessoas”, afirma Valdemir.
Este é apenas um dos vários casos relatados na última sexta-feira (14/6), durante a manifestação pacífica “Onde tem justiça, tem paz para todos”, realizada no município de Nova Alvorada do Sul (MS), que reuniu mais de cinco mil produtores rurais para pedir a paz no campo e o fim dos conflitos indígenas. Realização da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), com o apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), contou com a presença da presidente da entidade, senadora Kátia Abreu, além de parlamentares e autoridades, presidentes e representantes de federações de agricultura e pecuária de outros Estados, que foram ao município apoiar os agricultores e pecuaristas locais.
Quem passa pela mesma situação, embora seja mais recente, é o pecuarista Fernando Tacca, que teve uma propriedade rural invadida há três semanas em Sidrolândia (MS), um dos municípios do Estado onde o quadro de conflitos é mais tenso. Sua fazenda foi tomada um dia após a morte de um índio no local. Os invasores levaram todos os móveis, eletrodomésticos e vários instrumentos de trabalho. “Limparam tudo”,revela. No seu caso, o prejuízo não foi maior porque levou o gado que estava na propriedade para outra fazenda assim que os conflitos protagonizados pelos indígenas começaram a se acirrar. Para reverter a situação, Tacca foi à justiça para pedir a reintegração de posse. “Não podemos ficar de braços cruzados. Isso precisa de um basta”, ressalta.
A situação é mais tensa para a pecuarista Eliane de Oliveira Vargas. Sua fazenda, em Bonito (MS), foi invadida quatro vezes. Na penúltima, em 2011, os invasores, índios da etnia Kadiuéu, ficaram no local por 11 meses, saindo apenas em 2012, após mandado judicial de reintegração de posse. Entretanto, neste ano, os índios ignoraram a justiça e ocuparam novamente a fazenda. Moradora do município de Aquidauana, ela e o marido perderam todo o rebanho que criavam nestas invasões e hoje vivem da aposentadoria que recebem e de uma renda adicional vinda da empresa de engenharia dele. “Estamos bem apertados de dinheiro e não tenho muitas esperanças de que os índios saiam de lá”, pondera.
O casal Danilo Franco Silva e Décelis Franco Silva fez questão de ir à mobilização representar o tio, de 90 anos e saúde debilitada, cuja propriedade foi tomada há 15 anos por um grupo indígena no município de Antônio João, a 350 quilômetros de Campo Grande. “Quando os índios invadiram, correram pela porta dos fundos e eu dei abrigo para todos que estavam lá. Eles ficaram escondidos na minha casa por dias com medo de morrer”, relata Décelis. “Usamos até o trator na fuga”, completa Danilo. Hoje, o local, que antesservia de pasto para o gado, foi transformado em mato. “E meu tio ficou pobre e precisa de ajuda financeira.
Mas o problema não são os índios, eles são massa de manobra. O problema é o CIMI”, avalia Danilo.
Quem não teve a fazenda tomada está alerta. É o caso do agricultor Antônio Vieira e Silva, que tem uma propriedade em Itaporã (RS). Sua propriedade está em uma área demarcada pela Funai, que soma três mil hectares. Ele admite que até pensa em vender a propriedade, mas reconhece dificuldades em encontrar comprador. “Quem vai comprar uma propriedade invadida. Perdeu o valor. A insegurança jurídica que vivemos aqui está acabando com todos”, diz o produtor de soja e milho, que aguarda um desfecho feliz para a sua situação e a de muitos outros produtores que enfrentam situações como a dele ou até piores.


Fonte: informações da CNA

Voltar