6/6/2013
Tensão aumenta no Mato Grosso do Sul

Ontem, um novo conflito entre índios e fazendeiros, desta vez na fazenda São Sebastião, em Sidrolândia, terminou com um índio baleado e três desaparecidos.
O prazo para a reintegração de posse da fazenda Buriti terminou hoje de manhã. Na semana passada, a tentativa de retirada dos terenas da Buriti resultou na morte do índio Oziel Gabriel. Numa inflamada reunião no final da tarde com Cardozo, deputados e senadores de Mato Grosso do Sul cobraram do ministro a intervenção até mesmo do Exército na região.
- O governador pediu ao Ministério da Justiça a Força Nacional para atuar na região de Sidrolândia, tendo em vista a elevação do conflito hoje à tarde. O pedido já chegou, e nós deferimos. Amanhã de manhã, já estarão embarcando homens da Força Nacional. Uma parte vai por via aérea e outra parte por via terrestre, num total de 110 homens - disse o ministro Cardozo, após reunião com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, no Palácio do Planalto.
Para os parlamentares de Mato Grosso do Sul, só as tropas federais podem evitar confrontos armados e
derramamento de sangue entre índios e fazendeiros que disputam a posse de terras. Num dos momentos mais críticos do encontro, o senador Waldemir Moka (PMDB), que liderava o protesto, falou em tom exaltado com o ministro.
- Pedimos a presença da Força Nacional ou mesmo do Exército brasileiro. Alertamos que podem ocorrer mortes em profusão. Há um processo de radicalização por parte dos índios. Por parte dos produtores, a paciência está se esgotando. Estão levando os produtores a apontar para um caminho que pode levar a um conflito de dimensão catastrófica - disse o deputado Geraldo Resende (PPS), que participou da reunião.
Os parlamentares fizeram ao ministro relatos dramáticos dos conflitos agrários na região. Disseram que fazendeiros estão fortemente armados e dispostos a defender até à morte as propriedades que, segundo eles, pertencem às suas famílias há três ou quatro gerações. Os parlamentares alegam ainda que alguns índios também estão com armas pesadas.
Exaltado, Moka reclamou que o ministério já tinha sido alertado sobre os riscos de morte, e que qualquer novo incidente seria de responsabilidade do governo federal. Para os parlamentares, o governo estaria sendo leniente no cumprimento de ordens judiciais de retirada de índios. Em meio à pressão, Cardozo argumentou que em situações de litígio, como no caso da fazenda Buriti, o governo depende de decisões judiciais para agir. O ministro explicou ainda que a entrada da Força Nacional ou do Exército na questão dependeria de um pedido por escrito do governador. No mesmo instante, Moka telefonou para o governador e intermediou uma conversa de Puccinelli com Cardozo.
O ministro afirmou que orientou a direção da PF a acertar com a Secretaria de Segurança Pública o reforço no efetivo em Mato Grosso do Sul:
- Portanto, além de 110 homens da Força Nacional, que ficarão sob o comando do governo do estado,vamos encaminhar uma elevação do efetivo da Polícia Federal, a partir do entendimento de que estamos fazendo com a Secretaria de Segurança Pública - afirmou.
Amanhã à tarde, Cardozo deverá se reunir em Brasília com representantes dos terenas. A expectativa dele é esclarecer o papel do governo na disputa pela terra e, a partir daí, tentar pôr fim ao impasse. Para Cardozo, o prazo para desocupação da Buriti começaria a ser contado depois da notificação dos índios. Cardozo não informou se os índios foram avisados formalmente sobre a ordem judicial.



Fonte: jornal O Globo

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