15/5/2013
MST agora protesta até por petróleo

A Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) inicia hoje o primeiro dos dois dias reservados para os leilões de concessão de novas áreas de exploração em terra e no mar, marcando a retomada das licitações do setor, suspensas desde 2008. Por quase cinco anos, a destinação de novos poços ficou paralisada em virtude do anúncio da descoberta das gigantescas jazidas do pré-sal e das batalhas que se seguiram no Congresso em torno dos projetos para estabelcer um novo marco regulatório.
Ontem, movimentos sociais realizaram protestos em diferentes capitais do país contra a participação de empresas nacionais e estrangeiras nos leilões. Em Brasília, grupo de aproximadamente 800 manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) barrou o acesso de servidores ao Ministério de Minas e Energia. Eles tomaram a entrada do edifício, na Esplanada, por volta das 5h30. Os mais
prejudicados foram os funcionários do Ministério do Turismo, lotados no mesmo local. Protestos de sindicatos são esperados para hoje, na sede da ANP, no Rio.
Os integrantes do MST vieram de vários estados. Eles bloquearam as duas entradas do prédio e permaneciam no local. Os líderes do movimento consideram que a "privatização dos blocos" renderá um
ganho superior a R$ 1 trilhão para as multinacionais e não para o governo, como defendem. Em outra frente, sindicalistas foram recebidos pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), que leu uma carta redigida pelo MST, durante reunião no Senado, mas sem indicar atendimento aos pedidos.
Contradições
O Correio Braziliense conversou com algumas famílias que decidiram acampar na Esplanada dos Ministérios. Poucas sabiam o real motivo de estarem ali. Muitas acreditavam que o governo havia comprado terras e que seriam ali seriam distribuídas. "Não estou sabendo dessa história de petróleo, não", disse uma mulher, sem se identificar. Ela contou que perdeu a casa na cidade de Trevo, interior do Goiás, há um ano, devido ao transbordamento de um rio próximo do local. "A água invadiu tudo e perdemos a nossa casa. Agora, estamos esperando ganhar nosso pedaço de chão para voltar a plantar", acrescentou.
O casal Adão Hélio Siqueira, 28 anos, e Regiane Siqueira, 29, também não sabia ao certo por que foi convocado para estar ali. "Sei que tem um lance de doação de terra aí. Mas não me disseram muitos detalhes", contou Adão. Ao serem questionados se tinham conhecimento sobre os leilões do petróleo, ambos disseram nada sabiam sobre esse assunto. "Não sei. Estamos esperando a nossa terra. Não dá para morar mais em barracos", disse Regiane.
Apesar de pacífico, o movimento irritou muitos servidores que tentaram passar pelas portas principais do Ministério de Minas e Energia e foram barrados. Claudia Mendonça, 35, teve que entrar pela garagem, pois foi impedida pelos manifestantes. "Isso é um absurdo. Eles têm o direito de protestar, mas sem atrapalhar os outros", comentou .
Outras entidades também engrossaram a ocupação, como o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), a Via Campesina e a Federação Única dos Petroleiros (FUP). "Nossa proposta é que os recursos gerados com a venda do petróleo passem a ser investidos na reforma agrária e na educação do país", destacou o coordenador nacional do MAB, Moisés Borges. João Antônio Moraes, coordenador da FUP, alegou que acampar na porta do ministério foi a última saída encontrada para expor as reivindicações, em razão da resistência do governo. "Juntamos nossas forças às de outros movimentos sociais para tentar suspender esses leilões", destacou. Ele acrescentou que o movimento continuará pressionando para que os pleitos possam ser atendidos.



Fonte: Correio Braziliense

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