6/4/2006
A agricultura brasileira na UTI


Entre eles: redução na oferta de empregos, queda na arrecadação de centenas de municípios brasileiros e perda do poder aquisitivo das populações do campo e das cidades. “O baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 (2,3%) foi fruto do inexpressivo desempenho da agropecuária”, afirma o presidente da Organização das Cooperativas Paranaenses (Ocepar), João Paulo Koslovski.De fato, um estudo da Ocepar mostra que a participação da cadeia produtiva do agronegócio no total das exportações brasileiras caiu de 40,4% em 2004 para 36,9% em 2005. Ou seja, 3,5 pontos percentuais. “Mas ainda não sentimos toda a intensidade dos reflexos dessa crise”,alerta Koslovski.

Terra arrasada - O cenário tem sido perverso para o setor: valorização em 39% do real frente ao dólar entre janeiro de 2003 a fevereiro de 2006; queda de 33%dos preços dos principais produtos no mesmo período; condições climáticas adversas que comprometeram cerca de 20% da produção das últimas duas safras com perdas de dez milhões de toneladas de produtos só no Paraná. Voz solitária no governo em defesa do agronegócio brasileiro o ministro Roberto Rodrigues não se cansa de alertar o presidente Lula de que a agricultura chegou ao fundo do poço. Montou e agora aguarda a liberação dos recursos emergências para viabilizar um pacote de medidas emergenciais, a chamada MP do Bem da Agricultura, com o objetivo de amenizar a situação do setor agrícola que, nos últimos três anos, tem acumulado prejuízos de quase R$ 30 bilhões.

Ocepar - Para o presidente da Ocepar, a somatória desses fatores negativos foi a perda do poder de troca da agricultura em relação aos fatores de produção, que atingiu 33,4%, entre 2003 e 2005. Do outro lado, a falta de políticas públicas de apoio à comercialização da produção primária, insuficiência de crédito rural a juros compatíveis e a inexistência de um seguro de renda da atividade primária completam um quadro dramático vivenciado por milhares de agricultores brasileiros, muitos em situação de total falência.Apesar desse quadro de horror, o Palácio do Planalto continua cego, surdo e mudo aos alertas e as sugestões dos agricultores brasileiros para a pior crise da história do campo brasileiro, fato que tem irritado o ministro Roberto Rodrigues. Espera-se que com a saída de Antonio Palocci o novo ministro Guido Mantega,um entusiasta da agricultura, resolva abrir o cofre e liberar os recursos que a agricultura precisa.

Drama no interior - Para o presidente da Ocepar não resta a menor dúvida de que os reflexos negativos expressos nos percentuais de crescimento do PIB e do setor nas exportações se agravarão no médio prazo se Brasília não implementar políticas públicas de amparo ao agronegócio neste período de dificuldades. “O desemprego na agricultura já começa a se apresentar como o grande drama para as cidades do interior”, afirma o dirigente cooperativista. Segundo Koslovski, “apesar do esforço que tem sido feito pelas instituições representativas do setor, pela comissão da agricultura da Câmara Federal e do Senado, e das manifestações dos próprios agricultores em defesa de medidas para minimizar a crise, o governo federal, principalmente o Ministério da Fazenda, tem se mantido insensível”.

Inviabilizar o agricultor ? - O que o presidente da Ocepar não consegue entender é a razão da demora na adoção de medidas que, segundo ele, são imprescindíveis neste momento. “Será que o governo deseja reduzir o plantio, enxugar os empregos no campo, exportar menos e, assim, inviabilizar o agricultor?”, pergunta o presidente da Ocepar. Na tentativa de refrescar a memória do governo Koslovski lembra que nenhum setor da economia brasileira deu, nestes últimos anos, semelhante contribuição ao Brasil como o agronegócio. O maior superávit na balança comercial foi propiciado pelo agronegócio nos últimos anos, até 2004 a agricultura também foi a grande responsável pelo crescimento do PIB.

Promessas - Diante de tal quadro, o presidente da Ocepar pergunta: “Até quando os setores da economia brasileira poderão contar com políticas públicas anunciadas, regulamentadas, mas jamais cumpridas?” Em seu entender, o exemplo mais claro está no não cumprimento da política de garantia de preço mínimo pois, sistematicamente, o governo não tem recursos para cumprir com essa sua responsabilidade. O mesmo, segundo ele, acontece com o seguro rural anunciado sistematicamente pelo governo quando do lançamento dos planos de safra, mas que na prática tem se constituído na maior frustração do agricultor.

Gosto da imprevidência - O presidente da Ocepar acha ainda que nesse momento de dificuldades o setor deseja, urgentemente, um programa de renegociação das dívidas rurais de forma que não se acumule. É preciso ainda que haja disponibilidade de recursos para amparar a comercialização da safra em fase de colheita. Essa é condição imprescindível para que o agricultor possa receber pelo menos o preço mínimo, evitando vender sua produção a preços extremamente aviltados. “No longo prazo torna-se fundamental a análise e busca de soluções definitivas para o endividamento. É preciso também estabelecer novos mecanismos de captação de recursos para o setor, já que o volume de recursos alocados tem sido insuficiente e a custos cada vez mais caros”, avalia o presidente da Ocepar. Para ele, a falta de políticas públicas para a agricultura vai causar, em primeiro lugar, grandes prejuízos aos agricultores. Mas os reflexos serão sentidos, em seguida e com grande intensidade, em todos os setores da economia. “Aí sim o governo provará o gosto amargo de sua imprevidência e desatenção para com o setor primário da economia, que é a base da multiplicação do emprego e da produção de riqueza aos demais setores”, afirma o presidente da Ocepar. () (fonte: Agência Meios/Site SRB)


Fonte: Clube do Fazendeiro

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