3/4/2006
Área plantada de grãos pode retroceder 7 anos


No interior do País se multiplicam histórias de agricultores devolvendo tratores, renegociando dívidas e demitindo funcionários. A atual situação da agricultura é resultado de uma equação que envolve três anos consecutivos de quebra da safra em razão de problemas climáticos, a redução dos preços das principais commodities agrícolas, como soja e milho, e a valorização de 18,5% do real frente ao dólar nos últimos 12 meses, tornando o agronegócio brasileiro menos competitivo frente a seus principais adversários, que são Argentina e EUA.

O termômetro da crise pode ser expresso em números. A recessão no campo mostra que o PIB do agronegócio encolheu 4,7% no ano passado e deve fechar com uma queda ainda mais expressiva neste ano.

Produtores agrícolas devedores do crédito rural deverão enviar em massa notificação aos bancos de que não poderão pagar suas dívidas. "Será a maior manifestação de insolvência dos tempos recentes", afirmou o presidente da Comissão Nacional de Crédito Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Sperotto.

A notificação será coletiva e está sendo coordenada pela CNA. A distribuição dos formulários já está sendo feita pela entidade. Os agricultores deverão preencher os impressos com os dados pessoais e relativos às pendências bancárias e enviá-los às instituições financeiras à medida que as dívidas forem vencendo. Sperotto explicou que a notificação e o conseqüente pedido de prorrogação dos pagamentos estão previstos na legislação que criou o crédito agrícola.

Prorrogar o vencimento das dívidas agrícolas é apenas parte da solução para a grave situação financeira dos produtores, informa Sperotto. A agricultura brasileira aguarda a edição do que se convencionou como MP do Bem da Agricultura, o que deverá ocorrer a partir de amanhã. Apesar de ter sido anunciado o envio de medida provisória ao Congresso boa parte das medidas de socorro ao setor dispensam a apreciação de deputados e senadores, uma vez que incluem renúncia fiscal e definição das normas para o financiamento da produção e para o Programa de Escoamento de Produto (PEP).

Segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ivan Wedekin, a proposta é de adotar um conjunto de medidas para atenuar as dificuldades no campo, que deverão se anunciadas durante esta semana.

Muitas dessas medidas ainda estão sendo negociadas com a área econômica do governo, como a redução ou até a completa isenção de impostos para os fertilizantes e defensivos.

"Os agricultores enfrentam os efeitos dramáticos da quebra de três safras consecutivas e precisam de apoio", disse Wedekin. Segundo informou, a correção de rumo será por meio de medidas estruturais que contribuam para a redução dos custos de produção, mas haverá também recursos para financiar a comercialização.

A intenção do governo é reduzir custos para evitar a queda da produção agrícola e a redução dos investimentos em tecnologia no campo, o que levaria a uma dramática redução na oferta de alimentos no país.

Técnicos do Ministério da Agricultura defendem também a edição de uma medida provisória, para a redução dos preços dos insumos. Na prática significa a criação de produtos veterinários e defensivos agrícolas genéricos, na forma como existem em outros países agrícolas, como a Argentina. O genérico agrícola teria um preço 10% menor que os convencionais.

Medidas para a drástica queda nos custos das lavouras terão efeito mais rápido em favor dos agricultores, do que teria a correção das taxas de câmbio ou a abrupta alta dos preços, de acordo com o raciocínio de alguns analistas. Para o consultor Daniel Dias, da FNP, o maior entrave à atividade agrícola são os custos elevados da produção. Infra-estrutura deficiente também deverá contribuir para agravar a situação dos produtores.

Para Dias, o produtor não deverá desistir de plantar suas lavouras. Isso significa que a tendência de os estoques crescerem ainda mais. "Será a maior relação estoque consumo dos últimos tempos", disse Dias. Como a tendência é de o real se manter valorizado por um bom tempo, com a oferta elevada, os preços podem cair ainda mais. A saída, para ele, é gastar menos nas próximas safra para garantir pequena margem de lucro.

EUA plantam mais soja

Neste contexto, a lavoura de soja, que responde por quase 50% da área cultivada no Brasil, deve ser uma das mais prejudicadas. Na última semana, o governo dos Estados Unidos anunciou sua primeira estimativa de plantio para a safra nova, prevendo aumento de 6,6% na área cultivada com soja, e queda de 4,6% para o milho. Em razão dos elevados custos de fertilizantes para a lavoura de milho, os americanos optaram pela soja, o que deve repercutir na decisão de plantio no Brasil.

"Este crescimento de área nos Estados Unidos é mais uma prova de que a crise é no Brasil e provocada pelo câmbio", diz Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Para ele, se a safra americana escapar de problemas climáticos, certamente teremos mais um ano de preços fracos para a soja em 2006/07. "Não sei se vamos reduzir a área cultivada, mas certamente o nível de tecnologia será menor". (fonte: Gazeta Mercantil)


Fonte: Clube do Fazendeiro

Voltar