7/5/2012
"Carne bovina tem futuro garantido", diz executivo

Eduardo (Duda) Biagi, pecuarista e presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

O otimismo de Duda Biagi é respaldado em projeções da FAO de que haverá necessidade de se produzir mais 35 milhões de toneladas de carne bovina (são 57 milhões hoje) nos próximos 30 anos a fim de suprir a demanda da população mundial, que atingirá 9 bilhões de pessoas em 2050. Dois países, diz Duda, têm condições de aumentar o rebanho e a produção de carne: Brasil e Índia – este último está virando também um potencial exportador. E há outros fatores positivos a animar o setor, como o incremento do mercado interno e os altos preços das exportações.

Nesta entrevista, Duda critica os frigoríficos e, é claro, dá dicas da ExpoZebu, que começa neste mês, em Uberaba, com mais de 3 mil cabeças e 40 leilões.

Globo Rural > A ExpoZebu vai discutir a Rio+20 e levantar assuntos para ser debatidos na conferência. O que a pecuária brasileira avançou em termos de sustentabilidade para mostrar ao mundo?
Duda Biagi > Está havendo um processo importante de conscientização por parte do pecuarista de que é preciso produzir e cuidar do bioma ao mesmo tempo. Vamos mostrar aos chefes de Estado de mais de 100 países que as raças zebuínas atendem perfeitamente aos pilares da sustentabilidade; que não precisamos crescer horizontalmente, e sim verticalmente, aumentando a produtividade e ocupando cada vez menos espaço. Também apresentaremos nossos programas de melhoramento genético, que democratizam a qualidade. E os zebuínos têm a vantagem da adaptação ao clima tropical, que implica, por exemplo, no uso menor de produtos químicos.

GR > A acusação de que a pecuária destrói o ambiente ainda persiste ou a opinião pública tem reconhecido que hoje se preserva, até por questões econômicas?
Biagi > Ainda pintam o pecuarista como inimigo do meio ambiente, o que é uma distorção enorme. No entanto, muita coisa melhorou. Até na mídia, apesar de, às vezes, sobrarem ataques. E não é somente a pecuária a vítima, a cana também. Agora, no entanto, até o próprio governo mudou o enfoque. Veja o caso da ocupação da Amazônia, que foi incentivada oficialmente e havia até financiamento para desmatar. Muita gente implantou projetos grandiosos na floresta. Naquela época, essa era a orientação oficial.

GR > O senhor sempre foi um crítico da relação produtores-frigoríficos no país. Mantém essa posição ou acha que agora, premidos pelo próprio mercado, ambos estão atuando mais em conjunto?
Biagi > Continua igual ou talvez pior. Não existe preocupação da indústria com o produtor nem com o consumidor. Sim, atinge o consumidor também, já que, enquanto não houver um sistema que pague por qualidade, ele não vai ganhar. Temos exemplos semelhantes, como o café. Não houve pagamento pela qualidade nem investimento em marcas e hoje até a Colômbia tem um conceito de café melhor que o nosso. Agora, o café está melhorando, mas são iniciativas pequenas, nichos. O animal aqui no Brasil só têm dois preços: boi e vaca. Outros países têm algum tipo de classificação de carcaça. A Argentina, por exemplo, tem oito preços para o produtor, e aqui as promessas de pagar pela qualidade raramente foram cumpridas. E eu acho também que a concentração da indústria nos últimos anos fez tudo piorar. Eu mesmo faço cria, recria e engorda em Barra do Garças (MT), mato o boi aos dois anos, produzo uma carne de qualidade e recebo por ela um dos preços mais baixos do Brasil. Não existe concorrência.

GR > Como vê o futuro para a carne bovina?
Biagi > Com otimismo. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) projetam a necessidade de se produzir mais 35 milhões de toneladas de carne equivalente-carcaça dentro de 30 anos. Hoje, nós produzimos 56 milhões. É que a população global vai saltar de 7 bilhões para mais de 9 bilhões. E só existem dois países no mundo, cujos rebanhos têm aumentado, em condições de atender ao mercado: Brasil e Índia, que está superando entraves religiosos e incrementa a exportação de carne. Eu queria destacar ainda que as populações da Ásia e da África vão crescer muito mais do que em outras regiões, dobrando o consumo, e nosso sistema de produção tropical e nossa genética são os preferidos por eles. E outro cenário positivo está se configurando. É a melhora do padrão de vida da população brasileira e o consequente aumento no consumo de proteínas. Enfim, o mercado futuro está garantido, resta fazer nossa lição de casa direitinho.

GR > E as exportações?
Biagi > Aumentam também. Em 2011, nós exportamos menos carne com valor alto. Neste ano, estamos recuperando a quantidade e os preços continuam bons. Quanto à Europa, é preciso levar em conta que o Brasil exporta para 150 países. A Europa não faz diferença. A soma de consumo interno subindo com exportações idem deve resultar em preços firmes. Olhando para dentro do país, 2011 foi um ano de preços bons para o produtor, caindo um pouco ao final da temporada. Em 2012, houve uma seca muito forte no Centro-Oeste, mas, no geral, estou animado.

GR > O preço da carne bovina vai subir?
Biagi > Vai subir diante da carne suína e de aves. Mas, pense bem, vamos precisar produzir mais 35 milhões de toneladas, ou seja, a carne bovina tem espaço, muito espaço a ocupar.

GR > Porque a rastreabilidade não progride no país?
Biagi > É difícil entender, mas não anda mesmo. Tentaram fazer um sistema extremamente complexo e que ficou inviável do ponto de vista prático. Há também muita burocracia. Além disso, colocar brinco num rebanho grande é complicado. Mas nós vamos chegar lá.

GR > E a ExpoZebu? Qual é a expectativa?
Biagi > Toda a estrutura do parque é ocupada. São mais de 3 mil cabeças do que há de melhor no zebu, gado que definitivamente mudou o padrão da pecuária brasileira. Vamos promover mais de 40 leilões e shoppings, e o faturamento será alto, pois os pecuaristas precisam de genética para melhorar o gado e produzir mais e melhor. Os estandes das empresas estão todos vendidos e devemos acolher cerca de 300 representantes internacionais em Uberaba. O Parque Fernando Costa, onde a feira é realizada, ganhou o ISO 14000, por conta de seu sistema de gestão ambiental, e a ABCZ conquistou o ISO 9000 de gerenciamento geral. Esperamos ainda ter a presença da presidente Dilma Rousseff na ExpoZebu.

GR > Quais são as novidades para este ano?
Biagi > É difícil citar novidades numa feira tão tradicional e já em sua 78ª versão. Mas estamos sempre aprimorando, caso do Concurso Leiteiro. É incrível como a pecuária leiteira tomou vulto na ExpoZebu. Vamos avaliar a qualidade do leite no momento da ordenha e mostrar que esse critério deve ser feito também nas fazendas. Os julgamentos de pista vão ter um elemento motivador. Em seu transcorrer, o criador irá votar no animal de sua preferência, uma novidade. Esses votos não interferirão nos resultados finais, mas serão afixados em um painel na pista, ou seja, divulgaremos a escolha dos jurados junto à dos criadores.


Fonte: Globo Rural

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