3/4/2006
Gripe aviária valoriza carne bovina


Na avaliação do conselheiro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Lopes, os produtores de carne bovina estão diante de uma oportunidade excepcional, de inclusão ainda maior do Brasil como exportador no mercado internacional. "Já somos líderes globais, mas temos a chance de crescer ainda mais. O ideal seria ocorrer não só um aumento de volume, mas avanço tecnológico para o processamento de carne, com a oferta de novos cortes e produtos diferenciados", comenta Lopes. Ele diz que ainda é cedo para se fazer estimativas do quanto as exportações brasileiras de carne bovina podem crescer, mas o mesmo não deve se repetir na carne suína.

"A carne suína é a mais consumida no mundo. Historicamente, o consumo desta carne não cresce em tempos de crise. Na época da vaca louca, por exemplo, o consumo manteve-se estável e aumentou-se o consumo de frango", lembra. A explicação para este comportamento, diz o conselheiro do Ibre, está no fato de a Europa manter grandes rebanhos de suínos. "Além disso, o Brasil sofreu um golpe recentemente, com o embargo russo à carne suína brasileira", acrescenta ele.

Os produtores nacionais de carne bovina conhecem bem as oportunidades que podem surgir com a redução das exportações de frango. "A afirmação de Mauro Lopes está correta. Sabemos que a carne bovina registra aumento rápido de consumo em situações como a da gripe aviária. O produto tem a vantagem de não sofrer limitações religiosas de consumo entre os muçulmanos . Nosso grande problema ainda é o embargo por conta da aftosa. Se não fosse isto, estaríamos atravessando um período excepcional de vendas. Acreditamos, no entanto, que estes embargos à carne brasileira estejam se resolvendo, e já esperamos um panorama melhor para o segundo trimestre", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Camardelli. A estimativa é de que as exportações apresentem crescimento de 15% até junho, e ultrapassem este patamar no segundo semestre, se os embargos foram solucionados.

Exportadores querem vender mais em porções definidas

Camardelli, que esteve na última semana em missão empresarial no Egito, também concorda que o País deve buscar alternativas para a exportação de carne. "Um nicho interessante, em que estamos tentando aumentar nossa participação, é o de porções definidas, em que a carne é entregue já cortada, em porções para o consumo. Isto aumenta o valor agregado do produto. Em vez de vender uma peça inteira de carne, vende-se ela mais customizada", diz ele. O executivo alega, porém, que é difícil investir em tecnologia em um momento em que, além da aftosa, os produtores enfrentam as desvantagens da desvalorização cambial.

Já para os produtores nacionais de frango, Lopes acredita que a saída mais imediata seja o corte de produção, seguido por um apoio governamental de financiamento às dívidas que foram contraídas pelas cooperativas recentemente. "Os produtores nacionais estão provando de um veneno que meses antes os fez crescer. Quando a gripe aviária teve início, há pouco mais de um ano e se restringindo à Ásia, as exportações de frango cresceram enormemente. Este movimento encorajou as cooperativas, que investiram acreditando em uma manutenção deste ciclo. A mudança de comportamento do consumidor internacional, no entanto, os pegou de surpresas. Em pouco mais de um mês, a redução na produção de aves chegou a 25%", conta Lopes.

De acordo com a Associação Brasileira dos Exportadores e Produtores de Frango (Abef), em fevereiro os embarques somaram 198.887 toneladas, o que representou uma queda de 8% na comparação com fevereiro de 2005, e de 7% em relação a janeiro último. O produto industrializado foi o único segmento exportado a registrar crescimento, em volumes e em receita, tanto na comparação com igual mês do ano passado quanto em relação ao mês anterior. As vendas foram de 8.556 toneladas, 74% acima do registrado em fevereiro de 2005 e 19,5% a mais que em janeiro.

Quando avaliados os destinos, os embarques para a União Européia somaram 23.478 toneladas, com queda de 11% sobre janeiro. Já para o Oriente Médio - principal mercado das exportações brasileiras de carne de frango até 2005 - houve embarques de 52.723 toneladas, uma queda de 0,8% em relação ao mês anterior. Nas vendas para a Ásia foi registrada uma queda de 19% nos volumes embarcados, com as exportações totalizando 56.547 toneladas.

Em contrapartida, as vendas ao exterior de carne bovina apresentaram crescimento de quase 3% em fevereiro, mesmo diante dos embargos provenientes da febre aftosa. O valor do comércio de carne in natura, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), superou em mais de 10% o mês de fevereiro do ano passado. Rússia e Egito lideram a lista de maiores compradores. A mesma expansão se repetiu no valor negociado na exportação de carne industrializada, que teve aumento de cerca de 19%.

Aftosa teve impacto mais cruel nas vendas externas de suínos

Já o último levantamento sobre as exportações de carne suína mostra que a aftosa teve um impacto mais cruel nas vendas ao exterior. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), na comparação com fevereiro de 2005, a retração foi de 12,68% no volume de toneladas enviadas ao exterior (de 43.052 ton para 37.591 ton), acompanhada também de uma queda de 14,62% na receita (de US$ 80,1 milhões para US$ 68,4 milhões). Atualmente, o Brasil é o quarto no ranking mundial de produtores e exportadores de carne suína.

A Rússia continua sendo o principal mercado consumidor da carne suína brasileira, respondendo por 64% do volume total comercializado no mês de janeiro. Apesar do embargo decretado pelo país em dezembro do ano passado, o aumento se justifica porque a Rússia deu às empresas brasileiras autorização para que enviassem a produção relativa até o dia 12 de dezembro. Isto porque as indústrias ainda estavam estocadas por conta da greve dos fiscais federais em novembro. (fonte: Jornal do Comércio - RJ)


Fonte: Clube do Fazendeiro

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