14/10/2005
Críticas podem custar o cargo de Rodrigues

É delicada a situação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, no governo. Desautorizado pelo presidente Lula a criticar a política econômica, bombardeado pelos colegas nos bastidores do governo e sem conseguir atender às demandas do setor com as restrições financeiras impostas pela área econômica, o ministro resiste a pressões para deixar o cargo e luta para manter as aparências na pior crise da sua gestão.


As insatisfações do ministro com o "excesso de controle dos gastos" vêm se acumulando há algum tempo e culminaram com as recentes críticas em eventos públicos à política comandada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Lula não gostou.


As reclamações de falta de verba colocaram a origem do problema no colo do governo, já que a restrição fiscal para o controle sanitário poderia estar por trás do foco da doença, segundo avaliação do Ministério da Agricultura.


A equipe econômica reagiu e defende que a alocação do dinheiro disponível é responsabilidade de cada ministério. Com isso, caberia a Rodrigues colocar essa questão entre as prioridades da sua pasta e garantir os recursos suficientes.


Para completar, o próprio Lula defendeu publicamente, em Portugal, que não faltaram recursos para o setor. As afirmações fazem parte da estratégia do governo para contornar a crise, tirando a culpa da área econômica e dividindo a responsabilidade pelo ocorrido com produtores.


Como o foco ocorreu em Mato Grosso do Sul, considerado "o primeiro mundo da pecuária brasileira", integrantes do governo defendem que não seria por falta de dinheiro público que os produtores da região, os maiores exportadores de carne do país, deixariam de adotar medidas preventivas. Assim, suspeitam, pode ter havido negligência.


Para os poucos defensores de Rodrigues, o governo usa a técnica "de caça às bruxas" para se defender e não ter de assumir publicamente a opção por um controle mais rígido das despesas do setor público em detrimento de investimentos necessários.


Alguns ministros defendem nos bastidores que, se Rodrigues não concorda com a política em vigor, é melhor deixar o governo. Para aliados na bancada ruralista no Congresso, o governo precisa mais do ministro, que tem boa reputação com o setor, do que o contrário. Rodrigues, por outro lado, tem comentado que fica no cargo enquanto o presidente e a categoria que representa lhe derem apoio. No entanto a disposição dele já não é mais a mesma.


Fonte: Folha de SP (por Sheila D.amorim), adaptado por Equipe BeefPoint

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