23/3/2006
Desesperados, agricultores pagam juros de até 32%, diz Jonas Pinheiro


Para o senador Jonas, a queda dos preços internos das commodities, a elevação dos custos de produção, a exorbitância das taxas de juros, as restrições à concessão de crédito rural e à renegociação das dívidas dos produtores e um câmbio extremamente desfavorável são as principais causas do prejuízo do setor.

No Mato Grosso, informou o senador, os baixos preços em reais levaram a uma redução da área plantada que chegou a 1,5 milhão de hectares. No caso do algodão, a área de plantio caiu 30%. A de arroz chegou a 60%.

O senador ressaltou que as estimativas de lucratividade que têm sido feitas para a presente safra são negativas, demonstrando prejuízo iminente, uma vez que, na outra ponta, a previsão dos custos de produção das principais culturas, como a soja, o algodão, o milho e o arroz, tem demonstrado que esses custos serão maiores do que a receita que os produtores possam auferir delas na colheita.

“Nesse particular, a valorização crescente do Real frente ao Dólar tem um peso importante. Se, na safra 2004/2005, o Dólar já havia se desvalorizado cerca de 40% entre a época de compra dos insumos e a época de venda da produção, na atual safra, essa defasagem se acentuou. Na época de compra dos insumos, o Dólar estava cotado em torno de R$ 2,40; agora, a previsão é de que, na época de venda da produção da atual safra, ele esteja cotado abaixo de R$ 2,10, ou, até mesmo, abaixo de R$ 2,00, como sinalizam alguns analistas econômicos. Haverá, outra vez, um novo descasamento entre os preços pagos pelos insumos e o valor recebido pela produção, o que afeta diretamente a lucratividade da empreitada”, destacou.

A situação se torna mais crítica para os plantadores de soja porque só o frete, para levar o produto até o porto de exportação, fica com 30% do custo de produção.

Segundo Jonas Pinheiro, os sinais da crise também se tornaram muito evidentes por causa da inadimplência de muitos produtores junto aos agentes financeiros, tanto oficiais quanto privados, com a conseqüente desaceleração das atividades nas regiões produtoras. “Esse fato reflete negativamente no nível de emprego e na arrecadação dos municípios e do estado”, disse.

No ano passado, o Senado Federal aprovou emenda ao Orçamento Geral da União, propondo R$ 2 bilhões a mais no orçamento do Ministério da Agricultura a fim de que ele adotasse políticas de apoio à comercialização de produtos agrícolas. Apesar de aprovada a emenda, os recursos correspondentes não foram acrescentados, à época, ao orçamento, mas o Governo Federal assumira, naquela ocasião, o compromisso de pôr esses recursos à disposição no momento oportuno, a fim de viabilizar essas medidas. “Uma parte desses recursos somente foi liberada no mês de dezembro de 2005, após um exaustivo processo de negociação, quando já era tarde demais para que ele surtisse os efeitos desejados” lembrou.

Jonas Pinheiro destacou ainda que no presente orçamento, a Comissão de Agricultura do Senado aprovou emenda ao orçamento de 2006, propondo o reforço de um bilhão de reais para o mesmo fim. O relator setorial não pôde, pelas limitações, acolher essa emenda e estamos trabalhando com o relator geral para que a acolha. “Estamos discutindo se podemos incluir ou não um bilhão de reais no orçamento para garantir preços a milhares de produtores rurais e evitar o aprofundamento da crise em um dos setores mais importantes da nossa economia que, somente nos últimos anos, tem assegurado, não somente milhões de empregos, como também superávits recordes em nossa balança comercial. Estamos discutindo apenas um bilhão de reais para um segmento que contribui com mais de 40% do PIB brasileiro, enquanto o governo federal anuncia com orgulho aumentos na arrecadação de impostos e os nossos bancos, inclusive o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, obtêm lucros bilionários, jamais atingidos. Uma incoerência e uma pequenez”, lembrou.

De acordo com o senador Jonas, por falta de um apoio efetivo do governo federal à comercialização da produção agropecuária, muitos agricultores, "em total desespero", estão aceitando vender sua produção "a preços aviltantes" e recorrendo a empréstimos bancários com taxas de juros de até 32% ao ano - a inflação projetada para os próximos 12 meses está próxima de 4,5%. Ele acha que esses empréstimos dificilmente serão pagos pelos produtores, pois juros tão elevados inviabilizam qualquer produção rural.

Jonas Pinheiro observou que estão fora do alcance dos produtores medidas que diminuam seus prejuízos, pois o maior problema se deve à queda do real frente ao dólar. “Os agricultores não estão solicitando anistia de dívidas, nem privilégios ou vantagens descabidas. Eles são vítimas das políticas de juros, de câmbio, do peso da tributação, da deterioração das estradas e, em alguns casos, de fatores incontroláveis da natureza. Não se pode, depois de um profundo esforço e elevados investimentos feitos por anos a fio, assistir passivamente ao agravamento da crise a ponto de comprometer a “galinha dos ovos de ouro” da nossa economia e de ter seus efeitos em outros segmentos da sociedade”, argumentou. (fonte: Ass. de Imprensa Sen. Jonas Pinheiro)


Fonte: Clube do Fazendeiro

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