22/3/2006
Depois de atrair Embaré, governo gaúcho aguarda fábrica da Nestlé

Depois de assinar ontem com a Embaré um protocolo que prevê a construção, pela empresa, de uma fábrica com capacidade final para processar 2 milhões de litros de leite por dia no município de Sarandi, no norte do Rio Grande do Sul, o governo gaúcho espera anunciar ainda neste mês o aguardado acordo para a implantação no Estado de uma unidade da suíça Nestlé.

A negociação com a multinacional começou no início do ano passado e pode ser concluída na próxima semana, quando haverá mais uma reunião entre as duas partes na Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais (Sedai).

"Estamos conversando", confirmou o secretário Luís Roberto Ponte, que participou com o governador Germano Rigotto (PMDB) do anúncio do projeto da Embaré, no Palácio Piratini. Ponte não deu detalhes do projeto da Nestlé, mas disse que o investimento deverá ficar abaixo de R$ 120 milhões. A empresa também não teria definido a cidade onde instalará a unidade, que deverá produzir leite em pó, leite condensado e creme de leite. Tudo indica, porém, que a fábrica será na região noroeste do Rio Grande do Sul.

Assim como a Embaré, a Nestlé também deverá receber benefícios fiscais para erguer uma unidade no Estado, o que desagrada o Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat). Segundo o diretor executivo da entidade, Marcelo Roesler, a concessão de incentivos cria vantagem competitiva desigual para as novas indústrias, que podem inflacionar os preços da matéria-prima. Além disto, explicou, o nível de ociosidade no setor já é elevado, pois a produção gaúcha de leite chega a 6,4 milhões de litros por dia, enquanto a capacidade instalada de beneficiamento é de 10 milhões de litros diários. E grupos locais como CCGL e Cosulat já têm programas de expansão em andamento.

Para construir sua unidade a partir do fim de 2007, a Embaré recebeu da prefeitura de Sarandi uma área de 25 mil metros quadrados já com infra-estrutura básica. Do governo estadual, a empresa terá incentivos fiscais previstos no programa Fundopem-Integrar - que adia por até oito anos o início do recolhimento de 75% do ICMS gerado por novos empreendimentos. Após mais cinco anos de carência, o débito acumulado será pago em oito anos, com descontos de até 48% no valor das parcelas em razão do índice de desenvolvimento de Sarandi, explicou Ponte.

O diretor administrativo e financeiro da Embaré, Hamilton Antunes, admite que a chegada da empresa poderá elevar "um pouco" o preço médio pago aos produtores gaúchos (hoje na faixa de R$ 0,44 o litro). Ele garantiu, entretanto, que a política da companhia é trabalhar com valores "corretos" - que remunerem o produtor sem provocar "guerra de preços" - e também estimular o desenvolvimento das bacias leiteiras locais.

O investimento na unidade gaúcha será de R$ 237 milhões na primeira fase, que deve começar a operar em meados de 2009 com capacidade para processar 1 milhão de litros por dia e produzir leite em pó, manteiga e creme de leite. A segunda etapa, ainda sem cronograma definido, prevê aporte de mais R$ 80 milhões para duplicar a capacidade instalada. Nesse momento, poderá ser agregada ao complexo a produção de leite condensado.

As exportações estão fora dos planos pelo menos por enquanto, devido à valorização do real. Conforme Antunes, as obras no Rio Grande do Sul começarão depois da maturação do investimento de R$ 62 milhões na construção da terceira unidade da empresa em Lagoa da Prata (MG), onde a capacidade de processamento é de 1,1 milhão de litros de leite por dia.

A Embaré faturou R$ 347,6 milhões no ano passado, 21,4% mais que em 2004. As vendas de laticínios corresponderam a 84,7% do valor total e a de caramelos, aos 15,3% restantes. As exportações - exclusivamente de caramelos, para 41 países - aumentaram 8,7% em volume e alcançaram 5% da receita total. Em 2006 a empresa projeta crescimento de 20%.

Valor Online


Fonte: Olhar Direto

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