21/3/2006
O cenário de oportunidades de 2006 se consolida somente para alguns

Afirmei recentemente, que não seria fácil substituir o Brasil no mercado mundial em virtude do volume de carne que o Brasil exporta, de seu preço no exterior e da possibilidade de que outros estados da federação substituíssem os estados desabilitados. Afirmei também que outros cenários se abririam no ano 2006 para fortalecer o aumento do preço da arroba paga ao produtor. Tudo aconteceu, mas o preço da arroba caiu ainda mais.

O aparecimento da vaca louca na década passada, o decréscimo do rebanho americano, o alto custo de produção de carne bovina na Europa, a seca Australiana e o foco de aftosa na Argentina no ano 2000, criaram o ambiente favorável de oportunidades à pecuária brasileira que teve a competência de aproveitá-las e alcançar em 2003 a liderança mundial do mercado exportador de carne bovina. Hoje o Brasil responde por 30% deste mercado, com um faturamento de US$ 3,14 bilhões com somente 21% da sua produção.

Esperávamos o pior, como aconteceu com os Estados Unidos após a confirmação de um único caso de vaca louca no final de 2004, com o fechamento dos seus dois grandes mercados a Austrália e o Japão.

Após o aparecimento dos focos de febre aftosa no Brasil, graças à pulverização dos clientes da carne brasileira, mesmo com 56 países penalizando o Brasil com algum tipo de restrição, sobre tudo nos estados de PR, MS e SP, o Brasil continua na liderança mundial. Os grandes exportadores, com plantas industriais em vários outros estados habilitados, continuaram exportando, com a vantagem que o preço da carne brasileira no exterior aumentou de preço. Desta forma, a suposta retração das exportações não teve grande impacto para a indústria exportadora, mas criou o cenário ideal para baixar ainda mais o preço da arroba paga ao produtor.

O mês de janeiro de 2006 foi o janeiro dourado dos exportadores brasileiros com um faturamento de US$ 180,7 milhões e um envio de 105,2 toneladas de equivalente de carcaça de carne in natura, que superou o mês de janeiro de 2005 em 28,5% em faturamento e 23,4% em volume exportado. Ao contrário do que se imaginava a crise não os atingiu.

Mas, quem são eles? Dezoito frigoríficos respondem por 98% das exportações e os cinco maiores juntos controlam 65% deste mercado e apenas dois detêm 40% da participação. As conseqüências da concentração do setor são óbvias. Além disso, os frigoríficos exportadores gozam de desoneração fiscal sobre PIS e CONFINS, o que permite abaixar os custos de produção no mercado interno, provocando distorções neste mercado e deixando os frigoríficos não exportadores na insolvência e sem possibilidades de melhorar o preço da arroba paga ao produtor.

Medidas urgentes precisam ser tomadas, antes que a pecuária brasileira sofra prejuízos incalculáveis no ganho de produtividade alcançado nos anos anteriores. As políticas públicas devem corrigir estas distorções fiscais que favorecem alguns poucos, incluindo as carnes na cesta básica, desonerando os insumos e facilitando a entrada de grupos globais no mercado brasileiro da carne bovina que possam criar o equilíbrio justo entre competição e concorrência.

A concentração de poder dos frigoríficos exportadores está colocando em risco um segmento estratégico para o Brasil.



Fonte: Beef Point

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