26/6/2009
Fernando Bertin: nossa imagem nunca foi tão arranhada

O relatório do Greenpeace sobre a pecuária na Amazônia e a recomendação do Ministério Público Federal no Pará para os clientes da Bertin suspenderem a compra de produtos da empresa foram um "ato de força", comentou o diretor-presidente, Fernando Antônio Bertin, que completou dizendo que a companhia teve a sua imagem de três décadas injustamente arranhada.

Bertin diz que a empresa tem um projeto pioneiro de sustentabilidade no Pará e que as compras de gado sempre se basearam no que definiram os órgãos públicos. A empresa lamenta, ainda, a utilização do cadastro de seus clientes sem o seu consentimento. Na avaliação do frigorífico, tudo isso poderia ter sido evitado se ele tivesse tido chance de se defender.

A Bertin diz ter procurado o Greenpeace antes da divulgação do relatório para mostrar seu programa de compra de gado e de sustentabilidade, mas afirma não ter sido recebida. "O Greenpeace e o MP queriam alguém de peso." Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia, do Greenpeace, confirma o contato da Bertin. Sobre as 14 empresas com problemas ambientais listadas pela ONG, das quais o frigorífico compra gado, diz que "não conheço ninguém na Amazônia que não saiba quem está ilegal", em referência ao fato de que não basta olhar as listas do Ibama (que se referem ao ambiente) e do Ministério do Trabalho (que tratam de trabalho similar à escravidão).

Daniel César Azeredo Avelino, procurador da República, confirma que elogiou o programa de sustentabilidade da Bertin. O programa foi montado pela ONG Aliança da Terra com base em dados do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Charton Locks, coordenador de auditoria e certificação da ONG, confirma que a empresa fez o projeto piloto de cadastramento socioambiental para a Bertin na região de Marabá (PA) e que haverá uma ampliação.

Para Avelino, não basta a Bertin se pautar pela lista do Ibama e do MT. Ele admite que o sistema de informação do Ibama é falho, mas é hora de o setor privado auxiliar nesse acompanhamento, diz. O frigorífico precisa, também, exigir o licenciamento ambiental da propriedade e o cadastro rural ambiental. Se tiver dificuldades para a checagem dessas listas, o procurador diz que o frigorífico deve pedir as referências para o próprio fornecedor de gado.

Avelino diz que não se deve deixar tudo para o Estado. Pecuaristas, frigoríficos e Estado têm parcela de responsabilidade sobre o ambiente.

As 21 fazendas embargadas na mais recente ação do Ministério Público Federal (MPF) do Pará e do Ibama não constam da "lista negra" de desmatamento do próprio Ibama. Das 21 propriedades, sete foram embargadas em 2006, e as restantes ao longo deste ano. A lista é a única maneira oficial de um frigorífico - ou qualquer pessoa jurídica e física - averiguar se a propriedade rural está em conformidade com a lei ambiental. Sem o nome das fazendas na lista do Ibama, a empresa argumenta que não é possível saber da ilegalidade.

Em entrevista na noite de ontem, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, mostrou-se surpreso com a informação de que as 21 fazendas não estavam na lista do órgão em que trabalha. "Deveriam estar lá. Se não estão, vão entrar imediatamente", afirmou. Ele não soube explicar o porquê da falha.

Em entrevista na noite de ontem, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, mostrou-se surpreso com a informação de que as 21 fazendas não estavam na lista do órgão em que trabalha. "Deveriam estar lá. Se não estão, vão entrar imediatamente", afirmou. Ele não soube explicar o porquê da falha.

Prejuízos

A ação do Ministério Público Federal do Pará não só arranhou a imagem da companhia como fez com que perdesse uma receita estimada em R$ 46 milhões, segundo cálculos do jornal Valor Econômico.

Além disso, num primeiro momento, vários clientes da Bertin suspenderam as compras de todas as unidades do grupo no país e não apenas do Pará. Isso ocorreu, argumenta a companhia, porque a recomendação enviada pelo MP do Pará aos clientes da Bertin e de outras sete empresas não limita a origem dos produtos a serem embargados. "Todos os produtos e subprodutos, de origem bovina, adquiridos das empresas supracitadas caracterizam-se como oriundos de ilícitos ambientais (...)", diz trecho do documento.

Um efeito da recomendação do MP foi o embargo de grandes varejistas às compras das empresas acusadas. Segundo Fernando Bertin, depois disso a empresa passou a atender as grandes varejistas a partir de outras unidades que tem no país e as do Pará ficaram de fora.

Fernando Bertin tem confiança de que as perdas registradas agora por conta do episódio poderão ser recuperadas no resultado final da empresa este ano. "As vendas estão crescendo no mercado, lácteos vão bem [a Bertin controla a Vigor], a demanda está melhorando", disse.

Outro revés para a Bertin em meio ao imbróglio foi a suspensão da parceria com a IFC, braço financeiro do Banco Mundial. O diretor-presidente admitiu que havia restrições da IFC ao investimento da empresa no Pará, e disse que a crise mundial precipitou o fim da parceria. Parte do financiamento (US$ 60 milhões) saiu, mas uma parcela de US$ 30 milhões não chegou a ser liberada. Com isso, os planos de uma fábrica de produtos industrializados em Campo Grande (MS) e de um abatedouro na Bahia foram adiados.


Fonte: Beef Point

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