17/6/2009
Sadia e Perdigão negociam acordo com Cade

Após ser notificada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça, na semana passada, a compra da Sadia pela Perdigão entra, agora, numa fase de negociação em torno da assinatura de um Acordo para a Preservação da Reversibilidade da Operação (Apro). Esse tipo de acordo tem sido utilizado pelo Cade para evitar o fato consumado: que a fusão se consolide de tal forma que fique difícil de o Cade impor restrições às empresas no futuro.

O relator do processo, conselheiro Paulo Furquim, deverá se reunir com advogados das duas companhias na quinta-feira (18) para discutir os detalhes da operação e a viabilidade de um Apro. O Cade quer garantias de que o negócio poderá ser desfeito, ao menos em parte no futuro. Por isso, é importante que partes ou mesmo a totalidade das estruturas das duas companhias sejam mantidas separadas.

Para as empresas, o ideal é evitar que o Apro engesse o negócio. Normalmente, esses acordos trazem a proibição das empresas trocarem informações comerciais relevantes, como carteira de clientes, contatos com fornecedores e sistemas de distribuição. Elas acabam se comprometendo também em não demitir funcionários, preservar suas ações e suas respectivas estruturas de funcionamento da maneira em que se encontravam antes da fusão.

Será dentro desse campo de medidas que o Cade vai questionar a Sadia e a Perdigão. A imposição de uma separação - ainda que provisória das empresas - pode tomar rumos diferentes: ser branda ou rigorosa. Furquim é o decano no Cade e já relatou processos em que impôs medidas fortes. Em outros adotou postura mais amena, buscando evitar intervenções nas empresas. No caso "Sadigão", o Cade quer, de maneira geral, resguardar as estruturas anteriores à fusão, enquanto as empresas pretendem aproveitar a sinergia de suas forças. É nesse "confronto" que será assinado o Apro.

As empresas deverão argumentar ao Cade que a Sadia será uma subsidiária integral da Perdigão, com estruturas jurídica, comercial e societária independentes. Dessa forma, estaria garantida a possibilidade de reverter o negócio - caso o Cade conclua, no futuro, que a concentração é muito grande - pela venda da subsidiária Sadia. E, com isso, não seria necessário um Apro muito restritivo. Bastaria manter a estrutura da subsidiária, com garantias de sua independência da Perdigão.

Com relação à emissão de ações em nome da empresa resultante do negócio, a BR Foods, as empresas vão explicar que essa operação será feita para capitalizar a nova companhia. Haverá um alerta aos compradores das ações advertindo que o negócio ainda depende da aprovação dos órgãos antitruste. Ao descrever esse alerta, as empresas pretendem evitar eventuais alegações de fato consumado.

Por fim, apesar do prefixo "BR", a Sadia e a Perdigão deverão evitar também a campanha nacionalista em prol da aprovação do negócio no Cade. Os atuais conselheiros já se mostraram alheios à argumentação de que o país necessita de empresas nacionais fortes em seus setores. Para eles, antes de ter campeãs nacionais, o importante é resguardar a competição interna em cada setor da economia no país. Por isso, a Sadia e a Perdigão deverão argumentar que querem competir lá fora com Cargill e Tyson, mas sabem que o Cade olha com mais atenção para o mercado interno. A expectativa é que o processo demore mais de um semestre para chegar à pauta de julgamentos do Cade.


Fonte: Beef Point

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