15/6/2009
MT: valorização do bezerro chega a 132%

Escalada das cotações alivia pecuaristas, mas prejudica reposição. Reflexo deste descasamento será sentido daqui a dois anos em MT.


Cuiabá/MT

O forte descarte de matrizes entre 2004 e 2005, anos em que a pecuária mato-grossense chegou ao fundo do poço, refletiu diretamente na renda dos criadores e invernistas. Em um período de apenas três anos – 2006 a 2009 – os preços do bezerro avançaram 132,14% em Mato Grosso, saltando de R$ 380 para R$ 650 na comparação do período. Melhor para o criador, que pôde recompor suas perdas vendendo a “mercadoria” por um preço maior. Pior para o invernista, que reduziu sua margem de lucro ao comprar o bezerro mais caro mesmo com a arroba do boi gordo tendo valorização acima de 95% no ano passado – passou de R$ 46 para R$ 90.

A relação de troca de boi por bezerro, que chegou a um por três, caiu para menos de um por dois. “Se vendermos um boi pesando 17 arrobas ao preço atual de R$ 17/arroba, vamos ter uma renda de R$ 1.190. Considerando o preço do bezerro a R$ 650, o invernista não consegue comprar dois bezerros com o dinheiro do boi. A desvalorização foi grande e a reposição foi prejudicada”, afirma José João Bernardes, fazendeiro e vice-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Estado (ACN/MT).

Mesmo assim, segundo ele, nos patamares atuais os preços da arroba do boi gordo estão sustentando a atividade. “O problema será daqui a dois anos”.

Nas duas pontas – criador e invernista – os preços do gado tiveram boa valorização nos últimos anos, permitindo ao pecuarista respirar aliviado após a crise gerada pelo excesso de oferta, quando as cotações do bezerro e da arroba atingiram seus piores patamares.

De acordo com levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), em oito meses a arroba do bezerro de oito meses está 46,8% acima da arroba do boi gordo, enquanto que a média de 2003 a 2008 é de 21,3%. Para o analista da pecuária do Imea, Otávio Celidonio, esse descompasso mostra que a atividade de cria hoje está mais interessante que a atividade de engorda. “Isso pode ser confirmado pela taxa de abate de fêmeas, que após alguns meses em alta caiu para 38,8% no mês de abril. No final, quem manda no ciclo da pecuária são os preços”.

Nos últimos 12 meses, os preços do gado para reposição flutuaram muito, mas hoje se encontram em patamares próximos aos adotados há exatamente um ano. Dentre as oito categorias que o Imea acompanha semanalmente, a que apresentou maior discrepância foi o boi magro, que hoje vale 4,9% menos. As únicas categorias que estão com preço nominal acima dos praticados há um ano são as bezerras de 12 e 8 meses, que valem respectivamente 3,2% e 1,7% a mais.

Mesmo com oferta reduzida de bezerros e consequentemente com os preços convidativos desta categoria, que hoje tem a arroba 46,8% acima do preço do boi gordo, a vaca e a novilha continuam desvalorizadas em relação ao preço da vaca gorda.

A arroba do boi gordo terminou o mês de maio com uma alta acumulada de 6,1% para o contrato com vencimento em outubro, quando ficou cotada por R$ 89,88.

De acordo com os pecuaristas, os preços do bezerro tiveram valorização superior aos da arroba do boi gordo. ”Nos leilões locais o bezerro está cotado por preços que variam de R$ 620 a R$ 650. Entretanto, não podemos fazer qualquer projeção para o futuro. A oferta maior de bezerros ocorre depois da campanha de vacinação de maio e só a partir daí é que teremos uma definição mais clara do mercado”.

Os invernistas avaliam que os preços do bezerro estão supervalorizados e incompatíveis com o preço do boi gordo. “O cálculo para a próxima cria deixa uma margem muito estreita para o invernista. O preço do bezerro realmente está acima da média”.


Cotação vai se manter em alta nos próximos anos
A valorização do bezerro, que vem apresentando alta deste o início de 2007, está longe de acabar. De acordo com análise do presidente do Fundo de Apoio à Bovinocultura (Fabov) e diretor financeiro do Sindicato Rural de Cuiabá, Júlio Rocha, este ciclo positivo deve alcançar seu ápice em 09/10. Para ele, o constante aumento de preço do animal é motivado pela virada do ciclo que começou com a menor oferta de animais ocorrida no ano passado e deve continuar pelos próximos anos.

“É importante ressaltar que o bezerro de hoje é o boi gordo de 2010/1011, e a produção de carne deve continuar aumentando, uma vez que o consumo é crescente em todas as partes do mundo, e o Brasil é o grande fornecedor desta proteína animal”, frisa.

Ele cita previsão do professor Cláudio Haddad, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), apontando que os preços do bezerro, nos próximos cinco anos, podem chegar a R$ 1,5 mil devido à não abertura de novas áreas, à redução do rebanho de matrizes e a inversão da atividade pecuária pela agricultura, que implicará em diminuição da pastagem e, consequentemente, aumento dos custos de produção para o pecuarista.

Na avaliação de Júlio Rocha, a taxa de desfrute (relação de venda com o total do rebanho) em Mato Grosso tem que subir para 30%. “Atualmente, esta taxa oscila entre 20% e 22%, e precisa aumentar por causa da área e maior utilização de tecnologia e redução da idade de abate dos animais”.

Para o pecuarista Jorge Pires de Miranda, a valorização do bezerro era necessária para dar sustentação de preço ao invernista face aos altos custos de produção. “O que está havendo, na verdade, é apenas um ajuste nos preços para o criador. Os preços estão se adequando e chegando onde deveriam estar já há algum tempo”.

Segundo o pecuarista Walderbrad Coelho, nos últimos anos houve um “achatamento nos preços do bezerro” devido ao aumento nos custos dos insumos agropecuários e ao excesso de oferta. “Agora os preços do bezerro estão se recuperando. A tendência é de que os preços se estabilizem nestes patamares nos próximos anos”.

Fonte: Página Rural

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