2/6/2009
O búfalo sobe a serra

Pesquisa quer levar animais selecionados em Morretes para regiões frias e quentes do estado. Redução do plantel em 60% nas últimas duas décadas teria sido grande equívoco

Morretes - Misteriosos e temidos pelo jeito arredio e o porte entroncado, os búfalos vêm sendo eliminados pouco a pouco no Paraná. O rebanho caiu de 83 mil para 33 mil cabeças em duas décadas, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Curiosamente, nesse mesmo período, pesquisas desenvolvidas em Morretes (Leste), ao pé do Pico Marumbi, dizem que a redução de 60% no plantel foi um grande equívoco. Os técnicos do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) concluíram que a espécie é altamente rentável – o mediterrâneo para o leite e murrah para a carne.

“Os búfalos são ilustres desconhecidos. A demanda por queijo é bem maior que a oferta e os 450 quilos que um animal atinge em dois anos ultrapassam a marca de raças bovinas com mais de 200 anos de seleção genética”, afirma José Lino Martinez, coordenador dos estudos. A missão dos técnicos agora é fazer com que os búfalos selecionados subam a Serra do Mar, onde a pressão ambiental é mais forte, e provem que podem se adaptar a regiões frias ou quentes, com ou sem banhos de lama.

Um projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vai remeter 20 fêmeas e 1 macho para uma área do Iapar na Lapa (Sul) como primeira tentativa de expansão do plantel. Os animais vão sair da região mais quente e úmida do estado para uma área considerada fria. Serão submetidos ao sistema de semiconfinamento em aproximadamente 15 hectares de pasto.

De animais raros, os búfalos devem passar a competir com o gado nelore e o charolês, prevêem os técnicos. Para se ter uma idéia, existem ao menos 75 municípios no Paraná que, sozinhos, têm mais bovinos que o total de búfalos do estado, informa o IBGE. As únicas regiões com mais de 5 mil búfalos são o Leste (que abrange Morretes) e o Centro-Norte (de Ortigueira, Reserva e Ventania). A maioria dos bubalinos integra pequenos lotes espalhados pelo interior.

Não será fácil mudar esse quadro. O veterinário Rafael Souza conta que o número de bubalinos continua em queda no interior. Ele atua em Tibagi (Campos Gerais), que tinha 5,8 mil animais no final da década de 80, um dos maiores plantéis naquela época, e agora possui 610 cabeças, de acordo com contagem da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab) feita em novembro de 2008. “O pessoal acha mais rentável produzir grãos”, relata Souza. A própria pecuária de leite dos Campos Gerais, que alcança os melhores índices de produtividade do estado com bovinos da raça holandesa capazes de render 40 litros ao dia, vem optando pelo sistema de semiconfinamento, para reduzir as pastagens e ceder área aos grãos.

Os búfalos também podem ser criados em confinamento, defende Lino Martinez. Em sua avaliação, uma série de mitos cerca os animais, por puro desconhecimento de suas características. “Os búfalos também não são bravos como se pensa”, emenda. “Quando criados na presença dos campeiros (peões), não se tornam ariscos.”

“A melhor cerca para o búfalo é o pasto”, observa Luiz Ferreira da Silva, técnico que administra a Estação Experimental do Iapar em Morretes. Ele relata que os animais só tentam escapar se estiverem com fome. Os 450 quilos são alcançados com pastagens consideradas de média qualidade. A marca é comparada à do nelore, bovino de corte mais criado no Brasil. A vantagem seria justamente o trato. O búfalo é considerado menos exigente e mais resistente ao frio, a doenças, a vermes e a insetos.



Fonte: Portal Agrolink

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