12/5/2009
Pecuaristas e frigoríficos tentam negociar

Diante da posição inflexível de pecuaristas, sobretudo os do Centro-Oeste, de não fornecer mais bois aos frigoríficos enquanto não forem pagos débitos atrasados, não está restando outra alternativa a essas indústrias a não ser a de criar alguma forma de priorizar o pagamento desses fornecedores dentro do plano de recuperação judicial. Além de se negarem a fornecer animais para abate, os pecuaristas estão também partindo para o bloqueio de acesso de entrada de bois em alguns abatedouros, evitando assim que haja abate de animais fornecidos pelos que "furam" o movimento.

Os produtores do Centro-Oeste aguardam sinalização concreta de pagamento do frigorífico Independência para voltar a fornecer boi nas cinco plantas que a empresa mantém no estado. "Há um forte movimento de resistência aqui em Mato Grosso do Sul", diz Pérsio de Souza e Silva, presidente do Sindicato Rural de Aparecida do Taboado/MS. O Independência tenta retomar atividades, inicialmente, em Nova Andradina/MS.

O Independência conseguiu há um mês retomar parte do abate na unidade de Janaúba (MG). Para os pecuaristas do município, a empresa deve R$ 17 milhões. José Aparecido Mendes Santos, vice-presidente do Sindicato Rural local, explica que os produtores só voltaram a vender bois à empresa, porque, realmente, não tinham outra opção, pois a indústria mais próxima fica a 900 quilômetros da cidade.

Na última sexta-feira, o Independência reuniu-se na Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com representantes dos pecuaristas para explicar sua situação financeira e as medidas que vêm tomando para reduzir custos. "Não houve nenhuma proposta. O presidente, Miguel Russo Neto, apenas disse que está tentando convencer outros credores, como os bancos, que detêm a maior parte dos crédito com a empresa, a aceitarem priorizar os pecuaristas no plano de pagamento", relatou Eduardo Alves Ferreira Neto, diretor-tesoureiro da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

Arantes

Ainda há informações desencontradas sobre a real situação de recuperação judicial do frigorífico Arantes. Levantamento feito pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) apontou que o Juízo da 2ª vara de Falências de São Paulo sequer apreciou o pedido da empresa. Além disso, segundo o levantamento, o magistrado responsável pelo processo, nem mesmo decidiu quanto à competência do foro, "o que faz entender que, formalmente, não há Recuperação Judicial no grupo Arantes".

Depois de 15 dias com atividades suspensas por bloqueios na unidade de Nova Monte Verde (MT), o frigorífico do Grupo Arantes, que entrou com pedido de recuperação judicial em 9 de janeiro, confirmou que está tentando negociar o pagamento dos pecuaristas no município. Nas últimas rodadas, foi ofertada a quitação do débito de R$ 6 milhões em 12 parcelas, proposta que foi rejeitada pelos produtores.

"Eles têm dinheiro para pagar à vista. Não tem motivo para parcelar", protestou Jeremias Prado dos Santos, produtor e um dos líderes do movimento em Nova Monte Verde. Segundo ele, algumas renegociações semelhantes já foram fechadas pelo frigorífico Quatro Marcos, em Vila Rica (MT) e pelo próprio Arantes, em Pontes e Lacerda (MT) e com pecuaristas de Imperatriz (MA), onde a previsão é retomar abates neste mês.

No município de São José dos Quatro Marcos a situação é a mesma. Desde o dia 5, mais de 100 pecuaristas de 13 municípios bloquearam a entrada de gado em pé no frigorífico Quatro Marcos. A dívida do frigorífico com os produtores é de R$ 6 milhões só nessa região e a promessa é de que a planta não voltará a abater, "enquanto não quitarem 100% da dívida", afirma o presidente do Sindicato Rural de São José dos Quatro Marcos, Alessandro Casado. O frigorífico, segundo informações de Casado, "deu aviso prévio para todos os funcionários e alguns deles estão participando de nosso movimento".

O superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, disse que "a entidade tem conversado com os pecuaristas e orientado para que mantenham uma posição firme durante as negociações, pois existe claramente uma opção dos frigoríficos em usar seus recursos para comprar o boi à vista e agir como se não existisse uma dívida passada". Vacari acrescenta, que os pecuaristas devem se unir para que suas posições se fortaleçam, "pois existe uma dívida de mais de R$ 120 milhões e o produtor está com sua vida financeira travada, por causa das recuperações judiciais".


Fonte: Beef Point

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