6/4/2009
Doenças reprodutivas: inimigos do lucro do pecuarista

Apesar da divulgação, estas doenças muitas vezes passam despercebidas pelos produtores


As doenças reprodutivas de bovinos, sejam eles de corte ou leite, estão amplamente difundidas no rebanho brasileiro, e muitas vezes passam despercebidas por nossos produtores que deixam de lucrar, principalmente pela redução do nascimento de bezerros, no maior intervalo entre partos das vacas e na queda da produção leiteira.
Dentre as doenças mais disseminadas em nosso rebanho, destacam-se a leptospirose, a IBR (rinotraqueíte infecciosa bovina), a BVD (diarréia viral bovina), a brucelose, a campilobacteriose, a neosporose, dentre outras.
Os prejuízos causados por essas doenças são altos, pois o custo de manutenção de uma fêmea no rebanho é considerável, portanto esta fêmea não pode falhar em sua tarefa de emprenhar e de parir um bezerro por ano.
Neste artigo, vamos destacar três das principais doenças que acometem os rebanhos do Brasil:

IBR
A rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) é causada por um herpesvírus do tipo I, que pode provocar em fêmeas bovinas reabsorções embrionárias, repetição de cio com intervalos irregulares, abortos e morte de bezerros recém-nascidos. É característico de fêmeas infectadas apresentarem vulvovaginites (pequenos pontos de inflamação na vulva, como ‘‘bolhas’’). Em animais jovens, podemos observar problemas respiratórios, como traqueítes e pneumonias, e também conjuntivites, que acabarão prejudicando o desenvolvimento desses animais.
A transmissão ocorre pelo contato de secreções nasais, oculares, descargas vaginais e também de fetos abortados, além do coito e sêmen congelado contaminado. Frequentemente outros agentes infecciosos (bactérias e fungos) estão associados a esse vírus, devido à depressão do sistema imunológico dos animais.
Após a infecção, o vírus se mantém no animal de forma latente, isto é, em ‘‘dormência’’, podendo ser reativado após períodos de estresse (troca de alimentação e/ou de pastagens, desmame, privação alimentar ou de água, etc.) ou tratamento com corticóides. Estes animais serão fonte de infecção para os animais sadios.
Estudo do Laboratório de Virologia Animal da UEL, publicado em 2008, com amostras de diversos estados, constataram que 63% dos animais eram soropositivos para o vírus da IBR.

BVD
A BVD, da sigla em inglês para Diarréia Viral Bovina é uma doença de fácil transmissão, pois assim como a IBR, é causada por um vírus. Todas as secreções do corpo transmitem a doença, como também por via placentária e/ou contato direto entre os animais e fetos abortados. No caso dos touros, além das secreções gerais, como corrimento nasal, saliva e urina, o sêmen também pode contribuir para a contaminação das vacas durante a estação de monta (natural ou por inseminação).
A BVD provoca abortos, principalmente durante os primeiros três ou quatro meses de gestação, mas principalmente causa defeitos congênitos e atraso no desenvolvimento dos animais infectados, que se tornam as principais fontes de contaminação permanente no rebanho, chamados de persistentemente infectados (PI). A diarréia aparece como sinal clínico na faixa etária de seis meses a um ano de idade.
De acordo com estudos da FMVZ-USP, em inquérito sorológico em diversos estados, foi observado que 73,23% dos animais analisados eram soropositivos para o vírus da BVD.

Leptospirose
A Leptospirose é uma zoonose (doença comum ao homem e aos animais) prevalente em todo o mundo. É causada por bactérias do gênero Leptospira, que apresentam mais de 212 sorotipos, onde destacam-se hardjo, pomona, wolffi, canicola, icterohaemorrhagiae e grippotyphosa.
A infecção ocorre diretamente na pele intacta ou não, e mucosas que entram em contato com urina, fluidos placentários, leite ou água e alimentos contaminados, podendo também ser transmitida pelo sêmen e por via transplacentária. Os roedores (ratos, capivaras, etc.) também podem transmitir a doença, mas a principal fonte são os bovinos infectados.
A leptospirose é endêmica e bastante frequente no rebanho bovino do país, comprometendo a eficiência reprodutiva deste. Os sinais clínicos observados nestes casos são: nas fêmeas - reabsorção embrionária, repetição de cio com intervalos irregulares, abortos em qualquer fase de gestação, infertilidade e mastites. Já em animais jovens, principalmente bezerros, os sinais clínicos da doença são: febre alta, icterícia (amarelão), urina com sangue, anemia e morte.
Segundo levantamento sorológico do Instituto Biológico de São Paulo verificou-se que a variação de animais positivos foi de 25,2 a 62,5%, e que 74 a 100% das propriedades apresentavam um ou mais animais positivos.
O controle destas doenças baseia-se na avaliação de resultados de diagnósticos laboratoriais, e o uso da vacinação é a uma ferramenta muito eficaz de controle.
Hoje, com a adoção de práticas modernas na pecuária, como a transferência de embriões, a fertilização in vitro e a inseminação artificial em tempo fixo, e sem deixar de lado os manejos tradicionais, não podemos permitir que doenças infecciosas da esfera reprodutiva interfiram negativamente no sucesso destas práticas. Para garantirmos os lucros, devemos montar e seguir à risca um calendário de cuidados sanitários, sendo a vacinação sua principal arma.
Assim, teremos a certeza de impactos positivos imediatos e diretos no retorno econômico da atividade, além de garantir um ótimo padrão sanitário do rebanho bovino. (DIEGO R. T. SEVERO, é médico veterinário e gerente regional no RS, SC e PR dos Laboratórios Vencofarma do Brasil Ltda.)

Fonte: Folha de Londrina

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