3/3/2006
Ex-dono da Solorrico prospecta oportunidades de investimento

Normalmente expansivo, Lair Antonio de Souza está mais agitado do que o normal nos últimos meses. Às vésperas de completar 77 anos, o veterano empresário está pronto - e capitalizado - para investir. Com ativos nos segmentos de leite e laranja e passagem marcante pela área de fertilizantes, Souza prospecta as três frentes simultaneamente. E está ansioso.

Ao Valor, ele falou abertamente que desde o ano passado vem analisando oportunidades e sondando possíveis aquisições. Não deu nomes aos bois, mas sua movimentação foi percebida por fontes dos três mercados. No segmento de leite, Souza teria se interessado pela Parmalat antes do plano de recuperação judicial e agora concorrentes na produção de leite A estariam na mira para uma eventual aquisição; nos fertilizantes, teria feito uma fracassada proposta pela fabricante de matérias-primas Copebrás, do grupo Anglo American; na laranja, há quem duvide que o empresário tenha desistido de vez de produzir suco.

Confrontado com essas informações, Souza não confirma nem nega. Apenas sorri. Orgulha-se de seu nome circular em três frentes importantes para o agronegócio brasileiro. Segundo um amigo, suas atividades atuais não passam de uma "brincadeira". "Perseverança e capacidade me trouxeram até aqui. Perto do que tive, muita gente acha mesmo que o que tenho pode ser considerado uma brincadeira. São negócios pequenos", diz.

Souza e sua esposa detêm 60% da holding Grupaso. Os 40% restantes estão nas mãos dos quatro filhos - dois homens e duas mulheres. É por meio da Grupaso, sediada na Avenida Paulista, que o empresário administra atualmente os Laticínios Xandô, a Fazenda Colorado, duas outras fazendas de laranja e a Plastirrico. No total, seu faturamento mensal gira em torno de R$ 3,3 milhões - quase R$ 40 milhões por ano.

Souza começou a mostrar suas garras há mais de 50 anos. Formado contador em 1952, em 1955 ele conta que foi "dispensado" da Cia. Brasileira de Adubos e fundou no bairro paulistano da Lapa a Solorrico, que inicialmente apenas importava fertilizantes. Em 1958, decidiu construir uma fábrica de adubo granulado. Na empreitada, teve ajuda dos Biaggi (tradicional família do interior de São Paulo), que entraram com capital e ficaram com participação de 50% na sociedade.

Em 1968 - dois anos depois de comprar a Fazenda Colorado -, os parceiros abriram o capital da Solorrico. Ofereceram 10% do capital da empresa e alavancaram recursos equivalentes a 40%. O apetite de Souza cresceu, e com os incentivos fiscais oferecidos na época pelo governo para reflorestamento, começou a investir no plantio de laranja. "Sempre reinvestindo os lucros".

Com a construção de uma fábrica de suco de laranja em Araras (SP), nascia a "primeira" Sucorrico - também em associação com os Biaggi - que teve vida curta. Souza observa que o mercado já era concentrado, e que em 1972 decidiu vender a unidade para as rivais mais poderosas do segmento, Cutrale e Citrosuco. "A fábrica havia custado US$ 5 milhões. Vendi por US$ 13 milhões. Eles compraram e imediatamente fecharam a planta. Com o dinheiro, ampliamos o capital da Solorrico", relembra.

A expansão da empresa foi em Cubatão, onde a produção de adubo granulado foi triplicada. A partir daí, Lair Antonio de Souza concentrou a maior parte de suas energias nos fertilizantes. Em 1992, como confirmam expoentes do segmento, teve participação considerável no processo de privatização da Fosfertil e garantiu à Solorrico uma participação de 12,5% na Fertifos, holding que passou a controlar, com participação de 56%, a atual maior fabricante de matérias-primas para adubos do país.

Um ano após a privatização, a Fosfertil transformou uma tendência de prejuízos sucessivos em lucro de US$ 40 milhões. Em 1999, justamente por conta da saúde financeira da ex-estatal, Souza vendeu a Solorrico - que desde 1974 já não contava com os Biagi como sócios desde 1974 - e sua participação na Fertifos por US$ 200 milhões. Souza ficou com 52% desse montante.

Pouco antes disso, em 1996, o empresário havia investido US$ 30 milhões na construção da Sucorrico 2 e voltado à produção de suco de laranja, em parceria com um grupo de 196 citricultores. Em 1997, duplicou a produção e passou a processar 6 milhões de caixas de 40,8 quilos de laranja por safra. Voltou a avançar no segmento e em 2005, após disputa entre Cutrale e Citrovita, do grupo Votorantim, vendeu a Sucorrico e sua moderna fábrica - novamente em Araras - para a segunda, por US$ 70 milhões.

Esses recursos compõem ao menos parte do "cofrinho" que Souza reservou para a busca de oportunidades de investimentos em uma fase da vida em que a maioria das pessoas ou já se aposentou ou está prestes a vestir o pijama. "Não vou me aposentar. Paro no dia em que morrer". Ninguém duvida.


Fonte: Olhar Direto

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