19/1/2009
MT: rebanho bovino mato-grossense pode apresentar queda de 5%

O abate de matrizes em grande escala acabou levando a uma drástica redução da oferta de bezerros no mercado.


O rebanho bovino mato-grossense pode apresentar queda de 5% em 2008 – abaixo de 26 milhões de animais - por causa do alto índice de abate de fêmeas nos últimos anos, afirmou ontem o diretor executivo da Associação dos Produtores Rurais do Estado (APR/MT), Paulo Resende. Os números oficiais do plantel bovino, assim como o resultado da campanha de vacinação contra a febre aftosa – etapa de novembro – serão divulgados na próxima segunda-feira pelo Instituto de Defesa Agropecuária (Indea).
Paulo Resende informou que o abate de matrizes em grande escala aconteceu a partir de 2003, “devido à baixa remuneração” ao pecuarista. Naquele ano, a arroba do boi gordo chegou a ser comercializada por até R$ 36.
Em 2004, 2005 e 2006 também houve forte descarte de fêmeas. O diretor da APR diz que os pecuaristas adotaram a estratégia de aumentar o abate de matrizes como forma de gerar renda. Com isso, acabaram comprometendo a oferta de bezerros para engorda.
Em 2005, de acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o abate de fêmeas oscilou entre 35% e 40%. Em 2000, a média de abate era de 26%. O índice caiu para 22,7% em 2001 e depois aumentou ano a ano, chegando a 24% em 2002, 31% em 2003, 34% em 2004, 39% em 2005 e manteve-se estável em 2006. Em alguns Estados, esse índice chegou a 50%.

Rebanho

Em 2004, o rebanho bovino mato-grossense atingiu cerca de 26 milhões de cabeças, sendo abatidos cerca de 3,2 milhões de animais. Em 2005, o rebanho aumentou para 26,85 milhões de animais, com o volume de abates chegando a 5 milhões de reses. Em 2007 o rebanho caiu para 26 milhões de cabeças e, em 2008, este plantel “provavelmente ficará abaixo de 26 milhões de animais”.
“Até 2007, o abate de matrizes se dava pelo baixo preço da arroba do boi. Como conseqüência da alta taxa de descarte de matrizes, os produtores tiveram dificuldades para repor animais (bezerros) no pasto. Com a escassez da oferta de boi pronto para abate, o preço da arroba da vaca sofreu expressiva valorização, levando muitos pecuaristas a abater matrizes para fazer dinheiro”, conta Resende.
Para se ter uma idéia, a arroba do boi gordo sempre teve uma valorização de 30% sobre a arroba da vaca. Entretanto, a redução da oferta de boi acabou valorizando a carne da vaca no mercado, com os preços praticamente se equiparando aos do boi, com uma diferença de apenas 10%.

Bezerros

O abate indiscriminado de fêmeas acabou levando a uma drástica redução da oferta de bezerros no mercado. Por isso, Mato Grosso foi um dos Estados onde os preços do bezerro tiveram maior valorização do país em 2008.
De acordo com levantamento de entidades ligadas à pecuária, o preço médio do bezerro deu um salto de 100% no ano passado, passando de R$ 340, em 2006/2007, para R$ 680 em 2008. Atualmente, em função da queda nos preços da arroba do boi – que encolheram de R$ 90 para R$ 73 – o preço do bezerro também recuou, estando hoje no patamar de R$ 500 a R$ 540.
Na avaliação dos pecuaristas, esta valorização ainda está acima da média, superior até mesmo à cotação da arroba do boi gordo. ”Nos leilões locais o bezerro está cotado por preços que variam de R$ 500 a R$ 540. Entretanto, não podemos fazer qualquer projeção para o futuro. A oferta maior de bezerros ocorre após a campanha de vacinação do mês de maio e só a partir daí é que teremos uma definição mais clara do mercado”.

Preços dos bezerros estão com valor acima da média

Na opinião dos pecuaristas, os preços do bezerro estão supervalorizados e incompatíveis com o preço do boi gordo. “Matando um boi gordo de 16 arrobas, o invernista tem renda bruta de R$ 1,16 mil – ao preço médio de R$ 73/arroba - o que daria para comprar apenas dois bezerros ao preço de R$ 540. O cálculo para a próxima cria deixa uma margem muito estreita para o invernista. O preço do bezerro realmente está acima da média”, diz o pecuarista Leonardo Mendonça.
A relação de preços, segundo ele, sempre foi de 2,5 bezerros por um boi gordo. “Hoje, com o dinheiro de um boi se compra no máximo dois bezerros. A situação é complexa e ninguém tem explicação lógica para isso”.
“É importante ressaltar que o bezerro de hoje é o boi gordo de 2010, e a produção de carne deve continuar aumentando, uma vez que o consumo é crescente em todas as partes do mundo, e o Brasil é o grande fornecedor de proteína animal”, frisa.
Na avaliação dos especialistas, o que está havendo é apenas um “ajuste” nos preços do bezerro. “Os preços estão se adequando e chegando onde deveriam estar já há algum tempo”, afirma o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vaccari. Ele diz que nos últimos anos houve um “achatamento no preço do bezerro” devido ao aumento nos custos dos insumos agropecuários e ao excesso de oferta de boi.

Fonte: Diário de Cuiabá

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