19/1/2009
Produtores de leite começam 2009 em alerta

Mesmo com preços dentro da média histórica, alta nos custos faz leiteiros da região acumularem prejuízos


Os produtores de leite da região dos Campos Gerais começam 2009 já tentando esquecer os últimos meses do ano passado, quando foi registrado um menor preço pago pelas indústrias ao mesmo tempo em que houve um aumento no custo de produção. Apenas como exemplo, em janeiro os leiteiros recebiam R$ 0,66 (aproximadamente 25% maior do que a média nos últimos anos para o mês, que era de R$ 0,53) e hoje o preço pago está na faixa dos R$ 0,59. Tudo isso reflexo da demanda do mercado interno, da alta nas despesas e os reflexos da chamada crise internacional.
"O ano começou muito, mas muito bem para os produtores, mas terminou de forma difícil. No começo de 2008 os preços estavam bem acima da média histórica. E eles continuaram subindo até maio e junho, porém numa taxa de crescimento menor já do que em 2007, demonstrando o que viria para o segundo semestre", diz Henrique Junqueira, gerente de negócios leite da Cooperativa Castrolanda.
Apesar dos preços estarem dentro da média histórica - e até chegam a ser maiores em algum momento - um dos maiores problemas enfrentados pelos produtores é o alto custo para a produção da matéria-prima. No entanto, os valores estão bem abaixo do praticado aos considerados melhores anos para o setor. E isso não anima nem os responsáveis pelas cooperativas, nem os produtores.
Na avaliação de Junqueira, os principais fatores responsáveis por essa crise enfrentada pelos produtores de leite é o excesso de oferta no Brasil (já que aproximadamente 97% do total produzido é consumido pelo mercado interno) e a queda dos preços no mercado internacional. Apesar da previsão nada positiva ainda para esses próximos meses, o desestímulo na produção com os baixos preços pode ter reflexos positivos em um futuro próximo. Na chamada entresafra (nos meses março, abril e maio) o mercado pode reagir, já abrindo melhores expectativas para o segundo semestre. "Com os produtores vendendo abaixo do preço de produção pode-se dizer sim que estamos passando por uma crise. Mas isso não é novidade, já que tem períodos de ganhar dinheiro e de perder dinheiro, que é o de agora. Mas a crise gera oportunidades e também seleciona os produtores. E é no momento de crise que o produtor mostra que é bom", finaliza o gerente da Castrolanda.

Captação de leite também foi maior
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), nos seis primeiros meses do ano passado o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) aumentou 23,62% comparando-se ao mesmo período de 2007. Já no segundo semestre, quando tradicionalmente há um forte aumento na oferta, o ritmo de crescimento foi mais comedido, principalmente nos últimos três meses. Em novembro, o volume recebido pelos laticínios/cooperativas teve ligeira elevação 1,24%, ficando 5,5% abaixo do verificado em novembro de 2007.
Segundo a assessoria de imprensa do Cepea, entre os principais motivos do menor crescimento do volume estão as sucessivas quedas nos preços do leite no segundo semestre e os custos de produção mais elevados. De julho a novembro, as cotações do leite ao produtor acumularam recuo de 21% na média nacional.
Na média dos sete estados incluídos na pesquisa do Cepea (RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA), o preço de dezembro (referente ao leite entregue em novembro) ficou praticamente inalterado sobre o pagamento anterior, com leve alta de 0,25 centavo. No Paraná, a alta foi de 1,28 centavo, para R$ 0,5632/litro.

Ano fecha com preços em alta, mas ainda no prejuízo
Apesar da seqüência de quedas registrada no fim do ano passado, as altas do primeiro semestre garantiram aos produtores de leite o maior preço anual, em termos reais, desde 1994. A informação é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que iniciou os levantamentos sobre os preços do leite em julho daquele ano.
De acordo com a assessoria de imprensa do Cepea - que é usada pelas cooperativas da região como parâmetro -, a média ponderada nacional nos 12 pagamentos (referentes às produções de dezembro de 2007 a novembro de 2008) foi de R$ 0,700/litro, sem o desconto do frete e dos impostos, aumento de 1,93% em relação ao valor médio de 2007, de R$ 0,686/litro, isso sem o desconto do frete e dos impostos. Os dados são referentes aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia.
Em dólares, o preço médio nacional do leite em 2008 também foi recorde, de US$ 0,384/litro, representando aumento de 16,18% frente aos US$ 0,330/litro registrado no ano anterior. Até 2006, os valores médios anuais não passavam da casa dos US$ 0,25/litro. "A perspectiva não é nada boa, pois vemos um cenário negativo ainda para este início de 2009", conta Armando de Paula Carvalho Filho, que produz leite há 10 anos em Castrolanda.

Prejuízos são constantes para os leiteiros da região
"O ano começou bem e terminou mal". É com esse pessimismo que os produtores como Armando de Paula Carvalho Filho, de Castrolanda, encaram os resultados no final de 2008 como uma má previsão agora para o início do novo ano. Com a queda na cotação e os baixos preços pagos aos leiteiros, muitos já trabalham no vermelho, tendo um custo maior para a produção do que a receita obtida."Hoje estão pagando R$ 0,55, mas o meu custo gira em torno de R$ 0,58. E ainda fica pior quando já recebi R$ 0,90 pelo litro do leite. Normalmente se paga o custo e fica quase chegando no equilíbrio. Porém, atualmente ainda estamos no vermelho. É esperar que o mercado reaja, pois até agora estamos só acumulando prejuízos", diz Carvalho Filho.
Um dos entraves é a relação litro de leite por quilo de ração concentrada, que é o maior insumo na produção. "É uma situação desfavorável, pois os preços pagos estão parecidos com as médias, mas o custo de produção está bem maior e assim os produtores começam o ano em desvantagem se comparar com o mesmo período do ano passado", reforça Henrique Junqueira, gerente de negócios leite da Cooperativa Castrolanda.
Com previsão de tempos difíceis, os produtores buscam diversas alternativas para reduzir custos. Uma delas é tentar melhorias na eficiência para que medidas mais drásticas - como demissões - não tenham de ser tomadas. Uma das mudanças que está sendo adotada é a redução de três para duas ordenhas ao dia.

Castro segue como maior produtor do país
Na última pesquisa com os resultados da produção municipal - ainda referentes ao ano de 2007, a região dos Campos Gerais segue coma um dos destaques na produção de leite. Nos dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final do ano passado, Castro e Carambeí se destacaram entre os líderes nacionais de produção.
Na Pesquisa Pecuária Municipal, o município de Castro foi o campeão nacional na produção de leite. A produção em 2007 chegou a 135,67 milhões de litros. A cidade de Carambeí também se destacou e ficou entre os 10 municípios brasileiros com as maiores produções de leite. No ranking nacional, o Estado do Paraná aparece como terceiro maior produtor de leite naquele ano (2007) com uma produção de 2,7 bilhões de litros.

Fonte: Jornal da Manhã

Voltar