1/3/2006
Santa Catarina amarga os reflexos da gripe das aves

O avanço da gripe das aves na Europa começa a trazer reflexos para a produção e comercialização das agroindústrias com sede em Santa Catarina. No porto de Itajaí, há sinais de desaceleração dos embarques, como registra um dos grandes armadores no Estado, a Aliança Hamburg Süd. Algumas empresas também começam a reduzir a produção, informa o Sindicato das Indústrias de Carnes de Santa Catarina (Sindicarnes-SC).

Segundo o diretor-executivo do Sindicarnes, Ricardo Gouvêa, já se vê uma pequena redução e uma readequação da produção de frango. Há uma tendência de redirecionar o frango inteiro para produtos industrializados como congelados, que poderão sofrer menos impacto junto ao consumidor. Os planejamentos das indústrias começam a ter de se adaptar a um cenário de queda de 70% do consumo na Itália e de 30% na Alemanha, afirma.

A maior cooperativa agropecuária do Estado pretende diminuir a produção a partir de março. O presidente da Coopercentral Aurora, José Zeferino Pedrozo, não revela quanto irá reduzir a produção, mas diz que isso será uma diretriz para os próximos dias.

A Aurora não tem grande participação no mercado externo de frango - exporta cerca de 25% da produção -, mas vinha investindo para crescer. Em 2005, por exemplo, fechou contrato de prestação de serviços com a Cotrel, cooperativa de Erechim (RS), pelo qual passou a deter os direitos sobre a marca Nobre, forte no segmento de frangos.

Pedrozo diz que, diante do cenário adverso, os investimentos em aumento da produção - como a ampliação o abatedouro de aves em Maravilha, em estudo desde 2005 - serão feitos em ritmo mais lento e não sairão no primeiro semestre de 2006. "Vamos deixar passar essa nuvem negra que está em cima do setor". Segundo ele, os investimentos continuam, mas não com a pressa que a cooperativa tinha antes da chegada da gripe das aves em países da Europa.

No porto de Itajaí, os embarques de carne de frango caíram 2% em janeiro. Foram embarcadas no mês 131.579 toneladas. A queda é pequena, mas a previsão das empresas é que ela seja maior em fevereiro, já que em janeiro ainda foram enviados pedidos de contratos firmados no último trimestre de 2005. Os principais destinos das carnes de frango exportadas via Itajaí são Oriente Médio, Ásia, União Européia e Estados Unidos, nessa ordem.

A Aliança Hamburg Süd, com forte atuação no setor de carnes, já sente os reflexos da retração do setor. Nos últimos anos, explica o diretor-presidente, Julian Thomas, os embarques de frango efetuados pela empresa vinham crescendo cerca de 15% ao ano. Neste início de 2006, a retração chega a 20%, mas não só em Santa Catarina. O cálculo leva em conta clientes de todo o país.

O agrônomo Julio Rodigheri, da Epagri/Cepa, órgão de estatísticas do Estado, diz que os reflexos acontecem agora porque os importadores estão estocados. Segundo ele, por isso o preço do quilo do frango vivo está estável no mercado catarinense há mais de dez dias, em R$ 1,21 (em Chapecó, principal praça de comercialização). Abaixo de R$ 1, o valor não cobriria os custos de produção.

Apesar do cenário, Pedrozo prefere manter o otimismo. "Depois da tempestade vem a bonança. Já vivemos a experiência da doença da vaca louca, em que vimos isso", diz, referindo-se a novos mercados abertos para o Brasil, que não apresentou a doença.


Fonte: Olhar Direto

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