1/3/2006
Energia influencia preços de commodities

Duas das quatro commodities agrícolas que mais se valorizaram em fevereiro nas bolsas de futuros americanas tiveram seus ganhos sustentados por apostas dos investidores no mercado de energia. Conforme cálculos do Valor Data, os contratos futuros de açúcar de segunda posição subiram 11,71% no mês passado na bolsa de Nova York enquanto o milho, matéria-prima para produção de etanol, aumentou 4,74% em Chicago.

Essa valorização deve-se, em grande medida, à atuação dos chamados fundos de índices (index funds, em inglês), cujo portfólio é formado por uma cesta de commodities: energéticas, minerais e agrícolas. Tais fundos não atuam de forma especulativa, estão sempre comprados e servem como proteção ao investidor da inflação.

De acordo com André Pessôa, da Agroconsult, esses fundos ganharam espaço depois do estouro da bolha da internet e da perda de confiança em empresas americanas após os escândalos contábeis em grandes corporações.

De 2003 até agora, os investimentos nesses fundos cresceram significativamente. Eram US$ 15 bilhões em 2003, passaram a US$ 75 bilhões em 2005, e a estimativa é de que atinjam US$ 110 bilhões este ano, de acordo com Michael McDougall, da Fimat Futures.

Esses mesmos fundos também estão sustentando as cotações da soja em níveis acima do esperado, observa Pessôa, já que os fundamentos para o grão - estoques mundiais elevados - atualmente são de baixa. Mesmo assim, a soja fechou o mês com pequena valorização de 0,6% em Chicago. Segundo Pessôa, o mercado deveria estar entre US$ 4,50 e US$ 5,00.

O temor dos analistas é de que esses fundos realoquem posições dentro do portfólio, ampliando os investimentos nas commodities energéticas, por exemplo. Isso poderia derrubar ainda mais a soja.

Renato Sayeg, da Tetras Corretora, afirma que os fundos estão ajudando a "inflar" as cotações da soja em Chicago em pelo menos 30 pontos. O preço médio, segundo ele, deveria estar em torno de US$ 5,40 por bushel. "Até 2000, os fundamentos de mercado eram suficientes para explicar as oscilações. Hoje o preço da soja está sendo suportado pelos fundos." Sayeg diz que os preços da soja tendem a manter trajetória de queda em março, devido às estimativas de aumento dos estoques mundiais e redução do consumo mundial por conta do avanço da gripe aviária. Aliás, esse fator levou o preço da soja a recuar nas duas últimas semanas de fevereiro.

Além da ação dos fundos, os preços do açúcar também foram sustentados pela ausência dos países produtores do mercado. E assim deverá permanecer em março, mesmo com o início da colheita da cana no Brasil, afirmou Fernando Martins, da Fimat Futures. As cotações médias de fevereiro ficaram em 18,05 centavos de dólar por libra-peso. Na comparação com as cotações de fim de período, o açúcar registra alta de 86,7% em 12 meses e de 180% em 24 meses.

De acordo com Leonardo Sologuren, da Céleres, além do aumento da demanda por etanol, o que tem sustentando os ganhos no mercado de milho é a perspectiva de redução da área de plantio do grão, conforme estimou o Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) no Agriculture Outlook Forum. Foi prevista uma queda de 1,6% na área, para 32,75 milhões de hectares. O grão registrou alta de 4,74% em fevereiro e fechou a US$ 2,3353 o bushel.

Entre as demais commodities apuradas pelo Valor, os preços do café registraram queda em fevereiro, pressionados, sobretudo, pelas boas condições de clima no Brasil. As cotações médias de fevereiro ficaram em US$ 1,1445 a libra-peso, com queda de 6,01%.

O trigo, outra commodity que se valorizou em fevereiro - alta de 7,16%, com uma cotação média de US$ 3,7017 por bushel - teve seus preços sustentados pelo aumento da demanda, segundo analistas.

No algodão, as cotações médias de fevereiro ficaram em 57,12 centavos de dólar por libra-peso, ligeira alta de 0,58%. Fernando Martins, da Fimat, afirma que os preços do algodão iniciaram o mês em queda por conta da confirmação da safra recorde americana. "Mas a revisão da produção da China e o aumento do consumo mundial ajudaram a sustentar as cotações ao longo das últimas semanas."

No caso do cacau, os preços registraram ligeira baixa pressionados por ação dos especuladores. "Mas os preços oscilaram dentro de uma margem estreita", observa Thomas Hartmann, da TH Consultoria. Os fundamentos não chegaram a interferir. "A colheita da safra principal da Costa do Marfim praticamente está concluída", disse. Os preços médios do cacau ficaram em US$ 1.495,11 a tonelada, recuo de 2,99% no mês.

O suco de laranja voltou a se recuperar em fevereiro, após a queda registrada no mês anterior. "Embora o USDA tenha estimado a colheita na Flórida em 158 milhões de caixas, mantendo a estimativa anterior, os produtores acreditam que a produção ficará abaixo deste volume. As frutas colhidas estão bem menores e os pomares ainda sofrem os efeitos da passagem dos furacões no ano passado", disse McDougall. Os preços médios do suco ficaram em US$ 1,2944 a libra-peso, alta de 5,72% no mês. (Colaborou Cibelle Bouças)



Fonte: Olhar Direto

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