18/11/2008
Botulismo provoca mortalidade de bovinos no CE

O fantasma da seca começa a rondar o sertão do Ceará, como ave de má agouro. A primeira vítima da falta de chuvas é o gado. No Cariri, uma das regiões mais férteis do Interior, já morreram mais de 100 reses. Somente numa pequena propriedade em Crato morreram, em uma semana, 17 vacas. Algumas delas caíram mortas dentro do currais juntas com os outros animais. Além da falta d’água, a estiagem provoca o surgimento de outro grave problema para a pecuária: o botulismo, segundo o criador Renato Bacurau. Ele já perdeu dois animais na semana passada.
Na explicação do médico veterinário Ricardo Martins Pierre, o botulismo é uma forma de intoxicação alimentar rara, mas potencialmente fatal, causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, presente no solo e em alimentos contaminados e também mal conservados.
Ele diz que a doença só pode ser diagnosticada em laboratório. No entanto, pelos sintomas apresentados pelos animais, as evidências confirmam que o gado do Cariri está sendo acometido pelo mal. Sua ação nos organismos infectados ocorre de forma bastante rápida, levando os animais à morte em, praticamente, 100% dos casos, antes mesmo de o criador se dar conta do problema.
Ricardo recomenda a aplicação da vacina contra clostridioses, um conjunto de doenças, entre as quais, o botulismo, carbúnculo sintomático (manqueira), gangrena gasosa/edema maligno em bovinos ovinos e caprinos e, enterotoxemia em ovinos e caprinos. “Nas fazendas onde a vacina está sendo aplicada não está mais ocorrendo óbitos de animais”, diz o veterinário. O diagnóstico das clostridioses, de acordo com Ricardo, deve ser realizado por meio da coleta de material e analise em laboratório.
O material deve ser colhido em animais agonizantes ou mortos no período de quatro a seis horas após o óbito, para evitar a contaminação por outro agentes que invadem o cadáver em decomposição a partir do tubo digestivo.

Desnutrição
A morte do gado está relacionada com a carência de pasto e desnutrição dos animais. “Em regiões com acentuada deficiência de fósforo e suplementação mineral inadequada, os bovinos criam o que os técnicos chamam de apetite depravado, buscando a ingestão de ossos ou restos de cadáveres”, afirma médico veterinário da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Crato, Francisco Rosifran Linz. Ele adverte que, no caso destes restos estarem contaminados, ocorre o botulismo. Ele disse ontem que o órgão ainda não fez nenhum registro oficial da doença na região.
Mesmo assim, Rosifran acrescenta que, nesta época do ano, é muito comum o surgimento do mal em razão da contaminação da pastagem do gado. Outra forma de proliferação da doença é classificada como botulismo hídrico. Como o próprio nome sugere, ocorre após animais beberem água contaminada com fezes ou resto mortais de animais infectados na região.

Fontes de contaminação
O veterinário Ricardo Pierre lembra que, nesta época do ano, as reservas d’água estão no fim e, geralmente, contaminadas. Uma das fontes de contaminação são os urubus, que se alimentam de carnes apodrecidas. Outro risco apontado pelo médico é a chamada “cama de frango”, um ingrediente protéico alternativo utilizado em dietas de bovinos.
O produto é composto do material utilizado na cama do aviário, dos dejetos das aves, penas e ração proveniente do desperdício na alimentação. Ricardo adverte que essa prática é proibida por lei e pode levar ao surgimento do mal da Vaca Louca no País que, segundo ele, seria uma verdadeira catástrofe para toda a cadeia da pecuária de corte. “Além da cama de frango é proibido também o uso da farinha de osso na alimentação dos animais”, orienta o profissional.
Ele faz um alerta para que os pecuaristas redobrem o cuidado com a qualidade da silagem oferecida aos animais no período seco. Segundo ele, as condições de falta de oxigênio no interior do silo, questão indispensável para conservação da qualidade do alimento, podem tornar-se um sério foco de infestação, na medida em que congrega fatores que contribuem para a proliferação do clostrídio causador do botulismo. “Para isso, é muito importante que o pecuarista siga à risca todas as recomendações técnicas para a correta construção do silo, seja vertical ou horizontal”.
De acordo com o médico veterinário, independente do fabricante de medicamentos, é muito importante que o criador previna o rebanho por meio da vacinação, pois uma vez que um animal é infectado, o problema pode rapidamente se generalizar, causando alta mortalidade no rebanho bovino.
Entre os primeiros sintomas do botulismo, pode-se perceber o isolamento do animal do restante do rebanho, seguida de uma diminuição do apetite e dificuldade de locomoção progressiva, com andar cambaleante, terminando em prostração, decúbito lateral e morte. “A diarréia quando ocorre, tem caráter hemorrágico abundante”, observa.
A aplicação de vacina contra clostridioses é o meio mais eficaz para combater a doença.

Incubação
O período médio de incubação do botulismo pode variar em até 18 dias dependendo da quantidade de toxina ingerida. A evolução da doença também depende do volume de toxinas ingeridas. Quantidades maiores de toxina determinam um quadro rápido com morte em poucas horas ao início do sintoma.

Sintomas
O sinal mais importante de ser identificado é a paralisia dos músculos da locomoção, mastigação e deglutição, afetando primeiro os quartos traseiros, progredindo para os dianteiros cabeça e pescoço. Inicialmente, o animal apresenta dificuldade de locomoção. No estágio final, o animal cai no chão e fica até morrer.

Fonte: Diário do Nordeste

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