17/11/2008
Indústria de carnes leva susto em outubro, mas já vê situação melhorar

Mercado fundamental para as exportações de carnes do país, a Rússia e seus problemas de crédito assustaram as empresas exportadoras brasileiras em outubro, mas nos últimos dias o fluxo de transações deu sinais de melhora. Segundo associações que representam os exportadores, em parte a evolução refletiu medidas adotadas por Moscou para afrouxar o estrangulamento financeiro das companhias russas. Mas o clima também ajudou, já que nesta época do ano os embarques escasseiam devido ao rigoroso inverno daquele país, quando os portos têm as operações comprometidas.

Agora, Abiec (entidade que representa exportadores de carne bovina), Abef (carne de frango) e Abipecs (carne suína) torcem para que o reaquecimento dos negócios, no início de 2009, não acuse a flagrante desaceleração econômica russa, que já afetou manufaturados, mas ainda não chegou com força às vendas de alimentos, normalmente o último setor a ser abatido em crises.

"Até agora fomos pouco ou quase nada afetados. Mas é preciso cautela", informou a Sadia por meio de sua assessoria de imprensa. Além de ser grande exportadora de carnes suína e de frango para a Rússia, a empresa mantém no país uma fábrica em Kaliningrado, construída com um parceiro local, a Miratorg. A unidade, que absorveu US$ 90 milhões no total, foi inaugurada no fim de 2007.

No tocante apenas ao fluxo comercial, a carne bovina destinada à Rússia, atualmente o principal mercado externo para o produto - em parte devido às restrições impostas pela União Européia -, foi a mais afetada em outubro. Os embarques de cortes in natura para o país alcançaram 24,7 mil toneladas líquidas, 41,7% menos que no mesmo mês do ano passado.

Como o preço médio das vendas já vinha em elevação e ainda foi 72,12% superior ao de outubro de 2007, a receita oriunda dos embarques manteve-se praticamente estável em US$ 103,6 milhões.

As vendas de miudezas de bovinos para os russos também recuaram na comparação - 8,91%, para 810,4 toneladas líquidas. Também aqui o preço médio foi maior, 112,45%, e a receita subiu 116,5%, para US$ 5,5 milhões. "A situação melhorou depois de intervenções do Estado para ampliar o créditos aos importadores", afirmou na semana passada Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Abiec.

Segundo o ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes, hoje no conselho da JBS-Friboi, maior empresa de carne bovina do mundo, também pesou para fortalecer a pressão russa por renegociações de preços o fato de o país ter importado muito no primeiro semestre e estar, assim, bem estocado.

Em razão das semanas de impasse com os russos e das incertezas que esse impasse provocou nos frigoríficos exportadores, os preços da arroba do boi gordo chegaram a diminuir no mercado brasileiro, mas nos últimos dias esse mercado já apresentava maior sustentação, conforme levantamentos de consultorias especializadas.

Ainda que menos dependentes da Rússia, os exportadores de carne de frango (a Sadia entre eles) também sentiram uma desaceleração. Tanto que, de janeiro a outubro - e sobretudo graças aos dois últimos meses -, venderam um volume 7% menor (148 mil toneladas) para o país na comparação com igual intervalo de 2007. Também nesse caso a receita aumentou. A alta foi de 25%, para US$ 292 milhões, menos de 5% do total.

Já as exportações de carne suína "agradeceram" à Rússia, que ainda absorve mais de 40% das vendas brasileiras ao exterior, em outubro. O país vendeu mais (18,8 mil toneladas, alta de 18,2% sobre o mesmo mês de 2007) e foi melhor remunerado (40,1 milhões, salto de 61,4%). Mas nem por isso as indústrias do ramo estão tranqüilas.

"Na Rússia, a crise global teve grande impacto não só no câmbio como no sistema bancário. Os importadores sofreram seus efeitos", disse Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, em comunicado divulgado na semana passada. Segundo ele, os russos continuavam a tentar renegociar preços, mas a falta de estoques em época de demanda crescente preservava, neste segmento, o poder de barganha das empresas brasileiras.


Fonte: Valor Econômico

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