6/10/2008
Avanço tecnológico no controle da febre aftosa

Ainda nos dias de hoje a febre aftosa continua a ser uma das principais barreiras sanitárias ao comércio mundial de animais e produtos de origem animal. Além dos prejuízos diretos que provoca no rebanho afetado, essa
enfermidade tem um efeito-dominó, isto é, prejudica também o trânsito de animais e produtos de origem animal de todos os outros pecuaristas da região afetada, bloqueando as exportações de carne e provocando queda significativa no preço da arroba do boi.

Quando o vírus da febre aftosa se multiplica nos animais infetados, produz dois tipos de anticorpos: anticorpos protetores contra as proteínas estruturais e anticorpos não protetores contra as proteínas não
estruturais do vírus da febre aftosa. O mesmo sucede quando um bovino é vacinado com uma vacina convencional contra febre aftosa: este tipo de vacina induz anticorpos contra os dois tipos de proteínas, estruturais e não estruturais. Por isso, se um bovino for vacinado com uma vacina convencional, é difícil saber se os anticorpos contra as proteínas não estruturais devem-se à vacinação contra a febre aftosa ou à infecção com o vírus da febre aftosa.

Já uma vacina diferenciada contra a febre aftosa (também chamada por alguns pecuaristas como vacina limpa contra a febre aftosa) só induz anticorpos protetores contra as proteínas estruturais. Por isso, se um bovino for vacinado com uma vacina diferenciada, é possível distinguir os anticorpos devidos à vacinação (contra as proteínas estruturais) dos induzidos por uma infecção com o vírus da febre aftosa (contra as proteínas estruturais e não estruturais). Vacina diferenciada significa, portanto, rebanho protegido sem interferir com os testes que permitem confirmar que não existe febre aftosa na região.

Durante o processo de fabricação da vacina diferenciada contra a febre aftosa, é necessário, portanto, eliminar as proteínas não estruturais, sem prejudicar as proteínas estruturais que protegem os bovinos vacinados contra o vírus da febre aftosa. No entanto, a implantação dessa tecnologia de purificação, com eliminação de mais de 99% das proteínas a custo compatível com a realidade da pecuária brasileira e atendendo às normas internacionais sobre purificação de vacinas, constituiu desafio tecnológico complexo: exigiu que centenas de bovinos sem anticorpos contra a febre aftosa fossem vacinados e revacinados várias vezes com vacinas produzidas no Brasil para validar toda a tecnologia do processo industrial de purificação do vírus da febre aftosa.

A primeira vacina diferenciada contra a febre aftosa fabricada em escala industrial no Brasil foi disponibilizada para o pecuarista brasileiro em abril de 2008. É uma tecnologia inovadora que mantém o rebanho protegido contra a febre aftosa e facilita o trabalho das autoridades sanitárias para comprovar que uma região é livre de febre aftosa.
A fim de reduzir o risco de aparecerem anticorpos contra as proteínas não estruturais no soro de animais
vacinados que nunca tiveram contato com o vírus da febre aftosa é recomendável, portanto, o pecuarista só usar no seu rebanho vacinas diferenciadas contra a febre aftosa. A utilização sistemática destas vacinas valoriza, por conseguinte, os produtos de origem animal, como carne e leite, produzidos nessa região.


Fonte: Gazeta Mercantil

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