26/8/2008
O metano que vem do gado: solução está na alimentação

Entre as atividades que lançam metano na atmosfera, a criação de gado é a que mais tem contribuído, com 22% das emissões. Um dos gases do efeito estufa, o metano é liberado durante a processo digestivo que ocorre no rúmen, a pança do animal, com capacidade para nada menos que 200 litros. Fazem ruminação bois, carneiros, búfalos e bodes, mas o gado bovino é, de longe, o que mais contribui. O rebanho é maior são 185 milhões de cabeças e o bicho também.
O gado, mesmo sendo mamífero como a gente, tem aparelho digestivo diferente. O rúmen fermenta o alimento antes de passar pela digestão, que é feita no intestino, explica o engenheiro agrônomo Luiz Gustavo Barioni, da Embrapa Cerrados, em Brasília. O gás vem da fermentação microbiana, quando bactérias consomem a matéria orgânica. Como o processo é anaeróbio, ou seja, feito na ausência de oxigênio, o dióxido de carbono (CO2) liberado pelos micróbios que degradam o alimento se transforma em metano (CH4).
Segundo o pesquisador, a emissão anual é de 50 quilos de metano por cabeça de gado, no caso do bovino. A quantidade do gás por quilo de carne produzido é maior que a média americana. A explicação está no tempo do abate. Enquanto o gado brasileiro demora cerca de 30 meses até o corte, o dos EUA leva 18 meses. E, quanto mais tempo vive o animal, mais metano emite.
Uma das soluções para reduzir a emissão de metano pelo gado está na alimentação. Pesquisa do Instituto de Zootecnia de São Paulo, em Nova Odessa, mostra que a introdução da leucena, planta leguminosa usada como forrageira, pode diminuir em até 17,2% a quantidade de gás liberada pelo rebanho. Dietas com 50% de leucena e 50% de gramínea promovem melhor padrão de fermentação no rúmen de bovinos, resultando num decréscimo de 12,3%, esclarece a autora do estudo, a bióloga Rosana Aparecida Possenti. Para chegar a 17,2%, a proporção deve ser de 20% de leucena, 10% de levedura e o restante de capim.
O nutricionista Roberto Guimarães Júnior, da Embrapa-Cerrados, em Brasília, explica que a emissão de metano por ruminantes representa uma perda de aproximadamente 6% de energia bruta da dieta consumida pelo animal. Portanto, estratégias nutricionais que aumentem a eficiência de aproveitamento do alimento reduzirão as emissões de metano por unidade de produto, principalmente carne e leite.
O presidente da Associação dos Criadores de Pernambuco, Manassés Rodrigues, explica que os produtores locais ainda não fizeram qualquer alteração para reduzir os gases do efeito estufa. A nossa preocupação é que essas alterações sejam economicamente inviáveis, porque se o gado passar a comer novos produtos vão aumentar os custos de produção, comenta.
Ele defende que os produtores poderiam gerar crédito de carbono com outras iniciativas, como plantio de palma, que é uma cultura que seqüestra (retira) carbono da atmosfera.
O pecuarista Ricardo Uchoa Cavalcanti, que mantém 200 vacas para a produção de bezerros da raça Nelore numa propriedade em Carpina, Zona da Mata pernambucana, admite que desconhecia a contribuição do seu rebanho para o aquecimento global. Mas esse discurso, para mim, é egoísmo do primeiro mundo, que já cresceu e agora quer frear o aquecimento, se é que ele existe mesmo, às custas das nações em desenvolvimento.


Fonte: Jornal do Commércio - PE

Voltar