12/8/2008
Queda nos preços e entressafra reduzem receita dos produtores de leite

Os valores pagos pelo litro de leite aos produtores de Mato Grosso do Sul e Ceará não cobrem os custos totais dos pecuaristas de leite. A receita obtida pelos produtores é inferior ao Custo Operacional Total (COT), que inclui despesas para reposição do maquinário e das benfeitorias do produtor, além dos desembolsos do COE (Custo Operacional Efetivo), que são os gastos com mão-de-obra, alimentação, insumos e medicamentos, entre outros itens. Segundo os Ativos da Pecuária de Leite, pesquisa realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) confirma o cenário dos atuais custos de produção da atividade leiteira observado em outros Estados. “A queda registrada nos preços e a entressafra tendem a agravar a situação nos próximos meses, pois a receita obtida continuará muito próxima aos gastos efetivos”, explica o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Rodrigo Alvim. A exceção verificou-se em dois Municípios, Glória de Dourados (MS) e Iguatu (CE), onde a receita obtida pelos produtores paga todos os custos diretos e indiretos da atividade.

No caso de Glória de Dourados, em Mato Grosso do Sul, o desempenho é atribuído ao melhor aproveitamento da área utilizada para a produção leiteira em relação a outros Municípios pesquisados. O levantamento aponta que, de maio de 2007 a maio deste ano, uma área de 30 hectares neste município produziu 1.095 litros por hectare, gerando uma receita de R$ 31,4 mil, considerando a venda de leite e de animais. Esta cifra superou tanto o COE, que totalizou R$ 14,7 mil, quanto o COT, de R$ 31 mil. Em Campo Grande e Camapuã, no entanto, as áreas utilizadas de 100 e 150 hectares produziram volumes por hectare/ano bem inferiores, de 219 e 164 litros, respectivamente. Na média dos dois Municípios, a receita com o leite foi de R$ 0,48/litro, acima do COE, de R$ 0,46/litro, e insuficiente para cobrir o COT, de R$ 0,92/litro.

A receita obtida pela pecuária leiteria, no mesmo período, em Iguatu, no Ceará, foi de R$ 48,3 mil, o mesmo valor do COT. Este resultado é atribuído a maior participação da venda de animais, que responderam por 24,22% da receita gerada. O restante, 75,78%, foi proveniente da venda do leite. A área típica usada para a atividade é de 39 hectares, com produtividade/hectare/ano de 1.638 litros. Em Quixeramobim, o estudo observou que o total produzido foi de 548 litros/hectare/ano em uma área de 160 hectares. O ganho total obtido com a atividade nesta região ficou em R$ 57, 23 mil, superando o COE, de R$ 53,81 mil, mas abaixo do COT. Nesta região, a venda do leite foi equivalente a 84,19% dos ganhos da atividade leiteira. Segundo os Ativos, apesar da diferença de manejo e nutrição entre as duas cidades, a alimentação e a mão-de-obra são os componentes que mais oneram os custos de produção efetivos. Em Iguatu, estes dois itens correspondem a 48,1% e a 23,2% do COE, enquanto em Quixeramobim os percentuais foram de 55,3% e a 16,9%, respectivamente.

Também consta dos Ativos da Pecuária de Leite o aumento do preço da terramicina, antibiótico utilizado para combater infecções no gado leiteiro, que obrigou o pecuarista a desembolsar mais pelo produto nos dois principais Estados produtores: Goiás e Minas Gerais. Em maio, o produtor goiano gastou 17,95 litros de leite para adquirir 50 ml do antibiótico, o que representa queda de 1% no poder de compra em relação a abril. Este desempenho é atribuído à valorização de 3,5% do antibiótico, contra uma alta de 2,5% no litro do leite. Em Minas Gerais, a proporção registrada foi de 16,78 litros de leite para 50 ml do insumo, resultado da valorização do litro em 2% e de 5% do insumo.

No período de um ano, o levantamento registrou melhora de 22% em Minas Gerais e 4% em Goiás na relação de compra do produtor da terramicina. Na região Sul, o levantamento revela que o menor valor pago pelo litro de leite aos produtores desfavoreceu os pecuaristas de leite do Paraná e Rio Grande do Sul em relação a Minas Gerais e Goiás. No Paraná, o valor pago, em maio, foi de R$ 0,72/litro, R$ 0,07 a menos que Goiás. Desta forma, foram necessários 19,43 litros para um frasco de terramicina. No Rio Grande do Sul, onde os valores pagos foram um dos mais baixos entre as praças pesquisadas pelo Cepea, a proporção foi de 18,37 litros para cada 50 ml do insumo.



Fonte: CNA

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