24/7/2008
Couro e sebo em baixa reduzem margem de lucro de frigoríficos

Já com margem encolhida por conta da alta do boi, os frigoríficos no Brasil estão padecendo também pela queda do preço do couro verde, subproduto do boi que é vendido para os curtumes e que representa, em média, 10% da receita dos abatedouros. Há um mês o preço do quilo dessa matéria-prima caiu 12% e, no ano, acumula 22%. Até o sebo bovino, historicamente desvalorizado, está valendo mais, apesar de seu preço também ter recuado nas últimas semanas.

Até 15 março do ano passado, o quilo do sebo valia R$ 0,95 e o de couro verde, R$ 2,20. O aquecimento da economia naquele momento elevou a demanda por sebo das indústrias de higiene e da de biodiesel, o que resultou em uma escalada de preços da matéria-prima. Em novembro, o quilo já valia R$ 1,70, o mesmo valor do couro, que tinha iniciado queda. Em maio deste ano, o sebo já valia R$ 2,30, enquanto o quilo do couro, R$ 1,80. "O problema é que não houve uma compensação com o sebo, porque esse subproduto tem rendimento menor por boi do que o couro. Um animal adulto produz 40 quilos de couro e somente 12 quilos de sebo", compara Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Assim, mesmo com o valor de mercado mais alto, o sebo representa de 1,5% a, no máximo, 2% da receita das indústrias frigoríficas.

Ele explica que o couro é depende muito do mercado externo, que vem se retraindo neste ano por conta da menor demanda da Itália, maior compradora do produto brasileiro, e dos Estados Unidos. "O Brasil exporta 80% do couro que produz. O mercado italiano está em período de férias e , por isso, reduz compras. Os Estados Unidos, diretamente, não compram muito, mas compram couro de maior valor agregado. A crise imobiliária afetou o setor de móveis do país, que era o que mais importava couro do Brasil. Além disso, os americanos afetaram as compras da China, que importavam do Brasil e processavam para revender aos Estados Unidos", detalha Rosa.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a junho as exportações de couro totais do Brasil recuaram 23,7% em volume. "Isso acabou aumentando a oferta interna do produto e pressionando os preços". A estimativa da Scot é de que o Brasil produza por ano entre 44 milhões e 45 milhões de unidades de couro. "Cerca de 80% são destinados ao mercado externo".

Sebo
As exportações de sebo também recuaram fortemente neste ano. O volume embarcado despencou de 8,1 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2007 para 327 mil toneladas em igual período deste ano. "É provável que o câmbio tenha tornado menos atrativa a exportação que o mercado interno, por causa do biodiesel. Mas, pode ser que tenha havido um desequilíbrio na oferta dentro do País".

Segundo Rosa, a inflação no País pode ter pressionado para baixo as indústrias de higiene e cosméticos, que usam muito essa matéria-prima, setor que agora está, ou reduzindo produção para se ajustar a demanda menor, ou pressionando fortemente os frigoríficos para obter menor preço pelo sebo.

Carnes
Em contrapartida, desde o dia 24 de junho os preços da arroba do boi vêm recuando no mercado interno para alivio temporário dos frigoríficos. Levantamento da Scot aponta que até 24 de junho, a arroba em São Paulo valia R$ 95, valor que no dia 21 deste mês (última segunda-feira) bateu R$ 90, queda de 5,2%."Houve aumento da oferta de gado, o que é normal na virada da safra para a entressafra. Entra tempo frio e seco, o que faz com que muitos pecuaristas negociem animais, fazendo o preço cair".

Rosa acredita, portanto, que essa queda não vai se sustentar por muito tempo. "Passado esse período de ajuste e com o término da oferta de boi de pasto, o confinamento ditará a oferta e, tudo indica, que vai ser de recuo, pois o custo está em alta e o preço futuro indica queda. Mas, do lado da oferta há a volta às aulas e o pagamento de salários. O ambiente de preços ao boi deve ficar mais firme", avalia Rosa.

E já há os primeiros indicativos de que isso vai ocorrer. Segundo o especialista, ontem frigoríficos de São Paulo abriram ordem de compra a R$ 88 a arroba, mas não conseguiram vendedores. "A escala de abate, que há duas semanas estava de sete dias, já começou a encurtar e está agora entre três e quatro dias, o que é um período curto. Sem contar que a maior parte das indústrias estão com capacidade ociosa, em média, de 60%", acrescenta


Fonte: Gazeta Mercantil

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