10/6/2008
Pasto, carne, leite e madeira em produção integrada

No Noroeste do Paraná sempre foi comum ouvir falar em integração lavoura-pecuária. Há anos os produtores têm usado o cultivo de grãos para recuperar as pastagens e diversificar a atividade na região do chamado Arenito Caiuá. A iniciativa, agora, ganha força com uma nova opção de integração: a produção de madeira em meio ao pasto e aos bois e vacas. O objetivo inicial dos sistemas agrosilvipastoris não é o faturamento com a madeira – muito embora o lucro seja questão de poucos anos – e sim o sombreamento das pastagens como forma de ampliar a produção de carne e leite.

A família Penasso, de Tapejara, é pioneira na criação de gado sob árvores nas três propriedades que possui (206 hectares). Aguinaldo Sanches Penasso, dono de parte do lote, plantou grevíleas em 70% dos seus 81 hectares. As primeiras árvores foram cultivadas há 20 anos e estão prontas para o corte, mas nem todas serão derrubadas para não deixar o pasto sem sombra.

O agrônomo Anízio Menarim Filho, da Emater em Cianorte, lembra que há 20 anos só havia sombreamento no sítio dos Penasso e em mais uma ou outra propriedade na região. Hoje, são aproximadamente 6 mil hectares de pasto com árvores. E o interesse é crescente. Não apenas pelo aumento na produtividade do gado, mas por ser mais uma opção de renda.

Em uma área experimental com eucaliptos, em Umuarama, foram plantadas 150 árvores em um hectare. No final de maio passado, a plantação completou cinco anos e foram cortadas as árvores. O rendimento foi de R$ 1.520 em 10 mil metros quadrados de pasto. A vantagem do eucalipto em relação a outras espécies é que, após o corte, ele rebrota e o corte final ocorre com 15 anos.

Segundo o zootecnista da Emater em Tapejara, João Batista Barbi, o plantio de árvores nas pastagens melhora o conforto térmico para os animais. As plantas controlam o clima e ajudam a conter o vento, evitando destruição quando ocorrem temporais e geadas. Outro fator positivo é a antecipação na idade reprodutiva das fêmeas em seis meses e o aumento na condição reprodutiva dos touros europeus. Também foi verificada maior qualidade das forrageiras em função da matéria orgânica produzida pela queda de folhas e pequenos galhos das árvores.

Dionísio Penasso, o patriarca, diz que ao levar o gado para um pasto com poucas árvores é comum os animais procurarem ficar perto ou na sombra. “Por isso adotamos o sombreamento e não pretendemos abandonar.”

Atenção na escolha de variedades e mudas

O ideal é implantar a arborização durante a reforma da pastagem para evitar que o gado destrua as plantas pequenas. Conforme João Batista Barbi, da Emater, o produtor pode plantar as mudas nas pastagens já formadas, mas nesse caso, precisa fazer o isolamento por mais de um ano. Quando a planta atinge de 8 a 10 centímetros de diâmetro e pouco mais de um metro de altura, o gado não quebra nem come as pontas.

Outra recomendação importante é procurar por viveiros idôneos para comprar a muda. Segundo Barbi, a espécie mais usada é o eucalipto, pela rapidez na formação. Enquanto a grevílea chega ao ponto de corte a partir dos 12 anos, o eucalipto rende corte aos cinco anos. Cada muda é vendida atualmente por aproximadamente R$ 0,15. O técnico explica que o plantio é feito sempre nas curvas de nível e a média na região é de 150 plantas por hectare.

A dica é implantar a arborização numa média de 10% da área por ano. “Quando menos esperar, o produtor estará com a propriedade toda arborizada.” O pioneirismo do sistema é da região Noroeste, mas o sombreamento pode ser adotado em todo o Paraná, observando sempre as espécies que melhor se adaptam em cada região. E não é uma opção apenas para a pecuária; pode ser usada com ovinos, eqüinos e outros tipos de animais.



Serraria agrega valor à produção

Quando as árvores usadas no sombreamento chegam ao ponto de corte, o faturamento do produtor pode aumentar mais de 100%, se a industrialização ocorrer na propriedade. Aguinaldo Penasso diz que recebeu proposta de R$ 80 por grevílea, mas resolveu montar uma serraria simples com custo de aproximadamente R$ 10 mil. Cortada em tábuas para a construção civil, a mesma tora que seria vendida por R$ 80 rende em média R$ 250.

Ajudar o agricultor a agregar valor à produção é um dos objetivos da primeira serraria móvel nacional desenvolvida pela Embrapa Florestas (Colombo). O protótipo está em fase final de teste e foi apresentado no final de maio, em um dia de campo, em Umuarama. O analista de transferência de tecnologia da Embrapa, Rogério Dereti, informou que ainda não é possível estimar o valor que a serraria chegará ao mercado. Para ele, é uma criação que poderá ser adquirida pelo produtor individual ou em grupos, já que é móvel e de fácil manuseio. A expectativa é que a serraria esteja à disposição do produtor em 2009. (ON)


Fonte: Gazeta do Povo

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