5/6/2008
Preço do boi gordo pode chegar aos R$ 100 a arroba

Piracicaba/SP
Um valor nunca antes imaginado pelo boi gordo está muito próximo de ser alcançado. A expectativa de analistas de mercado, remota no início do ano, agora fica cada vez mais evidente: de que a arroba chegue a R$ 100. O produto vem em consecutivos recordes desde o final de abril, ultrapassando os valores de dezembro do ano passado, quando também eram históricos. E, como o mesmo ocorre com o bezerro, que teve a maior alta mensal (16% em maio) desde 2000, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), o mercado se "alvoroça" com esta perspectiva. No futuro, a arroba chegou a R$ 100 para novembro, na segunda-feira, mas recuou para R$ 98.

"Neste ano, o mercado sempre acreditava que no período seguinte a oferta apareceria. E estamos entrando em junho e não ocorreu. Uma safra difícil desta forma só tende a indicar uma entressafra mais difícil ainda", afirma o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Na sua avaliação, no pico da entressafra - na segunda quinzena de agosto - o animal alcançaria a marca dos R$ 100 a arroba. Para isso, teria de subir todos os dias R$ 0,30 por arroba.

Ontem, a alta foi de R$ 1,30 por arroba, de acordo com o Cepea/Esalq, com a arroba avaliada em R$ 87,13. Molinari lembra que o Índice Esalq tem se mantido em altas com patamares superiores aos R$ 0,30 por arroba nos últimos dias.

O analista lembra também que apenas em maio a cotação subiu R$ 10 por arroba, em um mês considerado o pico da safra. Tradicionalmente, o mês de maio é considerado o "vale da safra", ou seja, o de menor valor. Mas não foi o que ocorreu neste ano. A valorização do boi gordo, no mês passado, segundo a Scot Consultoria, foi de 12%. "Se o mercado repetir isso neste mês, chegaríamos a R$ 100 em julho", diz Maria Gabriela Tonini, analista da Scot Consultoria. Mas ela acredita que a "alta se arrefeça". Isto porque, no acumulado do ano já são 22%. Acrescenta, no entanto que, se chegou a R$ 100 no futuro, chega no físico.

Confinamento
O pesquisador do Cepea/USP, Sérgio de Zem, coloca algumas variáveis. Segundo ele, o número de animais confinados pode ser maior que o esperado. Só em Mato Grosso, de acordo com ele, o aumento esperado é de 50%. "E isso pode ocorrer nas outras regiões também", diz. Além disso, de acordo com o pesquisador, apesar do preço alto do bezerro (por volta de R$ 700, mas que só será boi gordo no ano que vem), o valor de R$ 90 a arroba remuneraria um confinamento de boi magro (comprado a R$ 1,2 mil) e vendido com 17 arrobas. Zem lembra que, como está difícil a reposição, muitos produtores estão vendendo os animais mais pesados.

Mas Molinari diz que uma oferta de 3 milhões de animais vindos do confinamento não será suficiente para enxugar o mercado, que está com falta de bovinos. "Se o mercado tivesse pago caro, mas comprado volume, se acomodaria. Mas cada dia paga mais e não aparece boi".

Consumo
"O limite quem vai dizer é o consumidor. Com a arroba a R$ 100, o traseiro teria de estar a R$ 7 o quilo. Hoje é de R$ 5,80 o quilo", afirma Molinari. Opinião semelhante tem Zem. "Eu duvido que a demanda continue aquecida desse jeito", diz. E lembra que o consumidor pode buscar outras fontes de proteínas.

O cenário de R$ 100 a arroba pode trazer problemas aos frigoríficos. Para Molinari, o segundo semestre, com a baixa oferta de animais, pode fazer com que as indústrias que não conseguirem ser competitivos tenham de parar plantas, demitir ou dar férias coletivas. "Isso é quase que natural para o segundo semestre, pois hoje a ociosidade já é grande", afirma. Ele lembra que a solução do problema não é política, é basicamente de oferta, que não tem como aumentar de uma hora para outra. Segundo levantamento da Safras & Mercado, por exemplo, no primeiro trimestre deste ano os abates de animais já foram 18% inferiores aos do mesmo período de 2007.

O diretor de Relações com Investidores da recém-criada Uni Alimentos (ver matéria abaixo), Carlos Gradim, duvida que a arroba chegue a R$ 100. "Na nossa cabeça ele (boi gordo) chegou onde tinha que chegar e agora vai estabilizar em nível próximo ao atual", afirma.

Segundo ele, os valores cobrados pelo animal já estão chegando ao limite máximo de repasse ao consumidor. "Se isso acontecer (arroba a R$ 100) , os frigoríficos vão operar abaixo do ponto de equilíbrio. Vão perder dinheiro", afirma. Segundo Gradim, o fato de o boi gordo alcançar este valor no mercado futuro não significa que chegará no físico. Além disso, de acordo com o diretor, o ano de 2008 é atípico, com uma "entressafra o ano todo".


Frigoríficos unem-se para ampliar eficiência
Dois frigoríficos que, segundo fontes do setor, estavam com dificuldades econômicas, se uniram para criar uma nova empresa: a Uni Alimentos, que nasce gigante: com capacidade de abate de 18,5 mil animais por dia - incluindo uma planta em construção -e, deste jeito chega bem próximo ao maior do País: o JBS (18,8 mil). Hoje, as empresas usam entre 40% e 50% da capacidade e têm uma dívida de R$ 600 milhões.

A redução dos custos e a sinergia (tanto produtiva quanto na complementação de atividades) são apontados por Carlos Gradim, Relações com Investidores da Uni Alimentos , como motivos para que o Margen (com 45% do capital) e o Quatro Marcos (com 55%) criassem a nova empresa, cujo valor de mercado estimado é de R$ 2 bilhões.

A perspectiva é que a integração de todas as 40 unidades, que incluem abatedouros, mas também indústria de biodiesel, entre outros, ocorra até o final deste ano e, em 2009, a Uni Alimentos faça a abertura de seu capital. "A empresa que resulta será uma proposição para o mercado de capitais mais atrativa que os dois grupos hoje separadamente", afirma Gradim. Segundo ele, no ano passado, a soma das receitas líquidas dos dois grupos era de 2,1 bilhões. A meta é que, no primeiro ano completo de operações da Uni Alimentos - ou seja, em 2009 - fique entre R$ 3,2 bilhões e R$ 3,3 bilhões, um aumento de quase 60%. Para 2008, a perspectiva é de 30%.

Além de ser grande na área de boi, a nova empresa tem braços também em suínos e aves. São três unidades de suínos, com capacidade para 5 mil abates diários, e uma de aves, em construção, para 250 mil frangos por dia. Gradim diz que a Uni Alimentos nasce como empresa de alimentos, mas com foco em bovinos. "Existe o desejo de ampliar o portfólio mas, no início, no segmento carnes", afirma. Ele lembra que outras empresas do setor foram para os lácteos, considerados "promissores", mas que não estão nos planos nem neste ano, nem no próximo. Gradim espera, na abertura de capital, já ter consolidado a posição da empresa. "Temos de tratar de ocupar a capacidade", diz. Acrescenta que, uma possível internacionalização começa pelo Paraguai.




Fonte: Gazeta Mercantil

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