12/5/2008
Preços das carnes brasileiras sobem no mercado mundial

São Paulo, 12 de Maio de 2008 - O aumento da demanda internacional por proteína animal e dos custos das commodities pressina os preços médios das carnes brasileiras destinadas à exportação. Em relação ao ano passado, os valores negociados estão 36% mais altos para a carne bovina e suína e 46% superiores para a de frango.
"E tem espaço para subir mais", acredita o diretor da AgraFNP, José Vicente Ferraz. De acordo com levantamento feito pela empresa a pedido da Gazeta Mercantil, no mês passado o valor médio cobrado foi de US$ 3,4 mil a tonelada - valores preliminares - para a carne bovina. A carne suína ficou cotada em US$ 2,7 mil a tonelada, enquanto a de frango chegou a US$ 1,6 mil a tonelada. Quando os valores são comparados com os praticados no início do ano, apenas a carne bovina registrou queda: a média pratica em janeiro era de US$ 3,96 mil a tonelada. Na avaliação de Ferraz, esta diferença ocorreu porque o País ficou sem exportar para a União Européia, que compra produtos de maior valor agregado. "Para os outros países, é um mix diferenciado, mais barato". No entanto, ele acrescenta que, a prova de que o mercado está altamente demandado é , não só a alta no acumulado de 12 meses, mas também na recuperação registrada em abril em relação ao mês anterior: US$ 3,4 mil a tonelada contra US$ 32 mil a tonelada.
O superintendente de Relações com Investidores do Minerva, Ronald Aitken, diz que os preços médios dos últimos contratos fechados pela empresa para exportação são de US$ 4 mil a tonelada. "A demanda por proteína brasileira continua forte e há restrições no fornecimento de alguns países concorrentes. Além disso, a gente vive um momento de inflação de commodities", afirma. Segundo ele, o preço da carne precisa aumentar porque os custos também subiram: no Brasil, por uma questão de ciclo - a arroba do boi gordo, de acordo com a Jox Consultoria se valorizou 39,9% em 12 meses - e em outros países, que usam o confinamento, devido à alta nas cotações do milho (66,6% na Bolsa de Chicago, no período).
O analista da Safras & Mercado, Paulo Molinari, diz que os preços estão em alta também por conta da desvalorização do dólar e a necessidade do Brasil corrigir preços para se enquadrar aos novos custos de produção. Na sua avaliação, os frigoríficos bovinos tiveram reajustes maiores que os de carne suína e de frango, pelo preço médio pago pelo animal. "Com o boi subindo e o dólar caindo, os frigoríficos têm maior necessidade de repasse", afirma. Segundo a Jox Consultoria, enquanto em 12 meses o boi gordo valorizou-se, o preço médio do frango vivo na granja, em São Paulo, caiu R$ 1,35 o quilo em abril de 2007 para R$ 1,32 neste ano.
De acordo com Molinari, os preços do milho e do farelo estão alto, mas o do frango não está alto. "Os produtores estão absorvendo os custos", afirma. Segundo ele, no caso do frango, o excesso de oferta interna não possibilitou o repasse do custo ao produtor. Segundo levantamento da AgraFNP, em relação ao abril do ano passado, o valor médio pago pelo milho em Campinas (SP) - região consumidora - é 41,52% superior: R$ 27,14 a saca (60 quilos).
No acumulado do ano, no entanto, devido à colheita, houve redução de 13,7%. Mas, desde o final de abril, a cotação voltou a subir. "O produtor está segurando milho, esperando o aumento na demanda", afirma Fábio Turquino Barros, analista da empresa.O presidente do Sindicato das Indústrias dos Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, discorda que os produtores não estejam recebendo o repasse dos custos do milho. De acordo com ele, a dinâmica dos valores praticados em São Paulo é diferente do Sul do País, onde há uma quantidade maior de integrados. Na avaliação dele, o aumento da demanda pelo produto brasileiro é que está possibilitando o repasse ao preço médio. No acumulado do ano, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as remessas de carne de frango subiram 6,4% em relação ao primeiro quadrimestre de 2007, enquanto a receita cresceu 34,8%.
Para Martins, a demanda pelo produto é crescente porque, apesar de tudo, ainda é a proteína animal mais barata. Segundo dados da RC Consultores, a estimativa para 2008 é de aumento de consumo mundial de carne bovina e de frango da ordem de 1,9%. A demanda da carne suína - a mais consumida no mundo - deve crescer 2,78%.
Para a economista Amaryllis Romano, da Tendências, a valorização dos preços das carnes brasileiras se deve ao aumento dos custos, mas também ao consumo. "Se não houvesse demanda, não aumentava o preço". Na avaliação dela, a alta maior do preço da carne de frango pode ser decorrente do fato de o produto brasileiro ter menos restrição que a carne bovina - que tem embargos sanitários. Por outro lado, segundo ela, o País ganha parte da valorização do preço da carne suína no mercado mundial, pois não tem a mesma participação que nas demais carnes.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8)(Neila Baldi)


Fonte: Gazeta Mercantil

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