19/3/2008
Produtor de leite aproveita bom momento e investe

Boa remuneração anima os pecuaristas a melhorarem a genética do gado, a produtividade e a qualidade do leite
Fernanda Yoneya
Para o produtor de leite Eduardo Lopes de Freitas, de Patrocínio Paulista (SP), na atividade há 20 anos, 2007 pode ser considerado o melhor ano em termos de retorno financeiro. “Mais do que o preço recebido pelo produtor, contou a relação entre custo de produção e valor de venda”, diz Freitas, que tem 60 vacas em lactação.

Segundo ele, no ano passado, o custo médio de produção foi de R$ 0,60/litro, para um preço de venda de R$ 0,67. Este ano, o preço para o produtor está entre R$ 0,70 e R$ 0,75/litro, para um custo de R$ 0,66/litro. “A tendência é boa, mas é preciso controlar custos.” Como agora é entressafra, Freitas acha que a oferta menor deve manter os preços em alta.

Animado com o cenário positivo, ele conta que aproveitou para investir na fazenda, “o que é necessário para ter boa produtividade, garantir preço na hora da venda e ter custo de produção razoável”, diz.

Na sua propriedade, o investimento maior foi em equipamentos de ordenha e de refrigeração. “Sem isso, não há como pensar em melhorar a qualidade.” A ordenha é mecanizada, a mão-de-obra é treinada - o leite é ordenhado a cada 48 horas - e os dois tanques de resfriamento, para 2.500 litros cada, garantem leite de alta qualidade. Outro investimento foi em genética. A inseminação artificial já faz parte do dia-a-dia da fazenda. “É um recurso plenamente viável.” Quem não lança mão dessa ferramenta, diz, é porque ainda não tem o conhecimento necessário.

Para Freitas, o que torna a tecnologia “acessível e eficiente” é o fato de uma dose de sêmen de um touro com genética provada custar entre R$ 20 e R$ 30 e a certeza de saber que o plantel está sendo melhorado geneticamente. “O uso de um touro na fazenda é como uma loteria. Pode ser melhorador ou não. Com sêmen testado, a evolução do plantel é certa.” Freitas produz 1.068 litros/dia. “Considerando que, há dez anos, o volume diário era de 200 litros, o investimento valeu a pena”, diz.

BOM MOMENTO

O produtor José Carlos Raiz, de Cristais Paulista (SP), na atividade há quase 40 anos, também aproveitou o bom momento no ano passado para investir na produtividade e na qualidade. O retorno obtido foi semelhante ao conseguido por Freitas - o custo de produção médio foi de R$ 0,59, para preço de venda de R$ 0,67.

Raiz tem 92 vacas em lactação, e produtividade de 1.500 litros/dia. Na fazenda, ele diz que investe em inseminação artificial em todo o rebanho. Já utiliza a tecnologia há mais de 20 anos, mas diz que, aos poucos, vai ajustando-a às necessidades da fazenda. “Estou sempre inovando, aprimorando, para a fazenda não virar sucata”, diz, destacando que começou com uma produtividade de 13 litros/dia.

ROTAÇÃO DE PASTO

O produtor conta que, para se manter, há 16 anos, trabalha com pasto rotacionado. Utilizava a fazenda inteira para criar gado de leite, mas dividiu a pastagem e adotou o sistema rotacionado. “Entrei com gado de corte e hoje meu rebanho tem 452 cabeças. Ele também investiu na mecanização da ordenha e comprou dois tanques próprios, com capacidade para 4 mil litros de leite. “Enquanto o preço estiver bom, vou investindo.”

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), as demandas interna e externa aqueceram o mercado e garantiram aumento de preços do leite na maioria dos Estados. O pesquisador Gustavo Beduschi diz que os preços recebidos pelo produtor em fevereiro foram 36,5% maiores em relação à média do mês dos últimos sete anos. “A cotação histórica para este período é de R$ 0,52. Este ano, porém, fechou em R$ 0,68.” No ano passado, o pico deu-se em setembro, com R$ 0,80. “O consumo estimulou o mercado e o produtor investe em produtividade para se ajustar à demanda da indústria.”


R$ 0,52
por litro de leite
é o preço histórico recebido pelo produtor, em fevereiro, nos últimos sete anos

R$ 0,68
por litro de leite
foi o valor pago ao produtor em fevereiro deste ano,
pela produção de janeiro

49,83%
é quanto representam
os gastos com nutrição no custo de produção, segundo levantamento do Cepea



Fonte: Estado de São Paulo

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