3/12/2007
Velhos problemas, novos cenários

Parece que devagarzinho esse negócio de abater animal rastreado com a orelha correndo sangue, confinamento com animais não identificados, mas com laudo e os brincos nas caixas, vai acabar. Felizmente, o setor como um todo está acordando.
03/12/07
Eleri Hamer

Alguns passos importantes foram dados. O descredenciamento e suspensão de uma lista de certificadoras foi o primeiro e importante passo. Das mais de 70 certificadoras, pelo menos 20 estão irregulares ou suspensas. Dentre estas ainda temos aquelas em que a qualidade do serviço é no mínimo duvidosa, embora o produtor pague para tê-lo.

A discrepância de preços entre as certificadoras já denunciava essa prática comum. Ora, qualidade tem preço. Muitos produtores ainda estão caindo na armadilha como acontecia com os falsos compradores de gado. Atuar no ganha-perde nunca foi um bom negócio no longo prazo. Ou seja, privilegiar a esperteza ao invés da seriedade.

Hoje é cada vez mais raro, mas a pouco tempo era comum empresas entrarem no campo comprando gado e pagando um pouco mais que o valor do mercado. Pagavam com cheque ou com prazo, quando o produtor queria resgatar o pagamento, o cheque não tinha fundo ou o comprador sumia.

Agora as coisas começaram a se repetir com as certificadoras. Como até hoje qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento e um bocado de coragem abria uma certificadora, o espaço para o engodo estava novamente aberto. Muitos produtores têm perdido o seu dinheiro por acreditar num sistema fácil, indolor, rápido e barato. O problema é que essas certificadoras abrem e fecham do dia para a noite e assim, deixam os produtores pendurados no pincel. A maioria tem que pagar duas vezes, agora, obviamente, para uma certificadora séria.

Infelizmente, na prática, ainda não tenho convicção de que a indústria, distribuição, produtores, governo e certificadoras possuem uma noção real da importância e da magnitude em torno do tema da certificação e rastreabilidade para a agricultura brasileira. Percebe-se que a maioria ainda acredita que isso é algo passageiro ou que diz respeito a um determinado mercado. Hoje, principalmente o Europeu.

Vale lembrar que não são só as pseudo certificadoras que estão quebrando, a maioria das pequenas empresas de certificação enfrentam sérias dificuldades para se manterem no mercado. É hora de também esta atividade se organizar. Fazer joint ventures, alianças estratégicas entre as pequenas ou com as grandes, fundir capitais. Se quiserem se manter terão que mudar o rumo da prosa e o modelo de trabalho.

No caso dos produtores, embora tenhamos honrosas exceções e que sofrem com essa avacalhação, muitos precisam parar de bancar os espertos ou coitados e encarar a atividade como um negócio, deixando de fazer depois o que deve ser feito hoje ou que já era para estar pronto. Todos precisam fazer a sua parte.
De um modo geral, o nosso produto é um dos melhores do mundo, mas tem produtor atrapalhando o processo. Segundo algumas pesquisas, nos próximos 20 anos, menos de 20% dos atuais pecuaristas conseguirão se manter na atividade. Como a demanda e a produção vão aumentar, sobra para a concentração.

Nas características, temos um grupo significativo que de um lado possui baixo nível tecnológico, motivado por incapacidade financeira, o que inviabiliza a própria atividade (é papel do Estado recuperar esse produtor), tornando-se um círculo vicioso, e de outro apresenta atraso inovativo, fruto do perfil retardatário de adoção tecnológica.

Assim, após o primeiro caso da Vaca Louca nos Estados Unidos em 2004, abrindo a guarda e dando possibilidade de expansão da carne brasileira em vários mercados, está ocorrendo um rearranjo e muitos mercados estão sendo recuperados. O caso dos deputados Europeus (irlandeses e britânicos) que estão fazendo lobby contra a carne brasileira é só um pequeno exemplo do que vem por aí.

A partir de agora começamos a incomodar quem está querendo voltar e também quem está no mercado e perdendo competitividade. Infelizmente a nossa incapacidade está demonstrada nos 10 anos que estamos tentando implantar a rastreabilidade.

A associação entre os produtores precisa ser fortalecida. As próprias federações estaduais de agricultura e pecuária não possuem um discurso que possa harmonizar a discussão e as ações. A maioria são organizações de cunho eminentemente político, ao invés de equilibradamente técnico e político.

Felizmente para alguns, vai faltar boi e a arroba vai subir. Vamos ver quem consegue aproveitar.



Fonte: www.portaldoagronegocio.com.br

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