9/8/2007
Rastreamento é uma questão mal resolvida

Não é de todo infundada a campanha de mercados concorrentes externos contra a carne bovina brasileira. Os exportadores reagem a essa investida, mas os pecuaristas patrícios e o Governo ainda não tomaram plena consciência de que precisam fazer seu dever de casa e afastar definitivamente as suspeitas sobre irresponsabilidades e descuidos no controle da sanidade animal. O Ministério da Agricultura e Pecuária está adotando nova guia de transporte de gado - que será adotada a partir do dia 21 do corrente mês - visando evitar fraudes, mas esta é apenas uma medida.

Denúncias publicadas na imprensa européia são de que não há rastreabilidade na pecuária brasileira, que é comum a remoção de brincos dos bovinos e que há irregularidade no trânsito de animais. Se essas acusações geraram reação de parte de pecuaristas brasileiros, há bastante de verdade nelas, porque o Governo não desempenha com eficiência seu papel fiscalizador e os pecuaristas negligenciam nos cuidados de sanidade. Se o volume das exportações de carne bovina tem aumentado, isto serve como alerta para a importância de um mercado exterior que não pode ser perdido.

Agora é a Irlanda - detentora de 15% das exportações de carne bovina para a Comunidade Européia - que ataca o produto brasileiro, uma posição compreensível se parte de um concorrente, mas é preciso eliminar motivos que sustentem esse antagonismo, e o Brasil os tem dado. Os pecuaristas e exportadores não devem esperar benevolências num universo de competição, porque cada país envolvido levantará suas barreiras e fará carga pesada contra a carne do Brasil, país que abriga em seu extenso território quase 200 milhões de cabeças de gado. O zelo, portanto, tem de partir de casa, e apesar do triste episódio dos embargos de dois anos atrás, por conta da febre aftosa, a lição parece não haver sido aprendida plenamente. Ao invés de tentar desqualificar as acusações, deveriam ser corrigidos os erros.

O rastreamento é uma questão não resolvida, porque não atende às exigências do mercado importador. O Governo precisa criar uma Câmara Setorial, integrada por todos os segmentos envolvidos, para que todas as questões sejam discutidas de forma abrangente e se adote uma política adequada para a exportação e para o consumo interno. E o produtor de carne precisa ter remuneração adequada, de acordo com a qualidade do que irá fornecer. Um sistema de tipificação das carcaças vai dizer qual a carne de boa qualidade.


Fonte: Folha de Londrina

Voltar