3/7/2007
Cultivo impulsiona atividade pecuária

A expansão do plantio de cana-de-açúcar sobre as pastagens é apontada por pecuaristas como uma das causas de recuperação da pecuária de corte, que depois de quatro anos de crise, pela primeira vez dá mostras de firme recuperação.

O preço da arroba fechou junho em R$ 60,49 à vista –aumento de 9% sobre maio e de 24% sobre junho de 2005– e mesmo assim não há animais para venda, o que reforça o viés de alta. Desde 13 de janeiro de 2005, o preço do boi gordo não passava dos R$ 60 a arroba e o preço de bezerros para reposição atingiu os maiores picos de preços dos últimos dez anos.

Líderes ruralistas e pesquisadores ouvidos pelo Grupo Estado dizem que a correção de valores se deve, em parte, pela capitalização dos pecuaristas, que conseguiram recursos para se manter na atividade graças à transformação de áreas de pastagens degradadas em extensos canaviais. "Agora temos dinheiro para segurar o boi no pasto", disse Alfredo Ferreira Neves Filho, presidente do Siran (Sindicato Rural da Alta Noroeste de São Paulo). "Eu já previa que a cana seria a salvação da pecuária", destacou Neves Filho.

Em 2002 e 2003, o pecuarista apareceu na imprensa mostrando sua fazenda de gado sendo transformada em canaviais. "Plantei cana em 1.500 hectares, mas deixei uns 500 hectares de pastagens. Com o dinheiro da cana, deu para bancar a recuperação das pastagens e iniciar a recria, que conta hoje com cerca de 700 animais, metade do que eu tinha em toda a fazenda", contou.

"Foi a melhor coisa que aconteceu para a pecuária", avaliou Neves, lembrando que há três ou quatro anos o pecuarista foi obrigado a descartar fêmeas e touros para arcar com a atividade, cujos custos eram mais altos que os preços do boi. O resultado foi o fim de animais para reposição, o que levou o preço de bezerros a atingir os maiores recordes dos últimos dez anos, segundo indicador do Cepea (Centro de Pesquisas em Economia Aplicada).

"De três meses para cá o preço do bezerro que era de R$ 180 subiu para R$ 350. O touro comercial que há seis meses nem preço tinha, hoje não é vendido por menos de R$ 3.000", disse o criador Eduardo Arantes, líder do Núcleo de Pequenos Criadores de Nelore de Araçatuba e região. Segundo Arantes, o dinheiro trazido pela cana-de-açúcar reanimou o setor. "Os pecuaristas que optaram pela criação intensiva e recuperaram áreas, agora estão tendo retorno", explicou Arantes.

Para o professor Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea, a situação ocorreu "porque nenhum pecuarista é louco de sair totalmente da pecuária para migrar para outra atividade", comentou. Segundo De Zen, o comportamento dos pecuaristas, que continuam investindo na pecuária, ajudou na recuperação da atividade. Na opinião do professor, a recuperação se deve a uma reorganização do setor, que passou a ser visto e deve se comportar como grande abastecedor do mercado mundial; ao aumento da produtividade causada pela valorização do real e ao surgimento de outras fontes de rendas, como a cana e a soja, que ajudaram a aumentar a demanda. "Está chegando ao fim, no Brasil, da cultura de usar grandes espaços. Sempre se usou grandes espaços, agora a produtividade está melhorando”, complementou Zen.



Fonte: Jornal do Commercio - AM

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