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23/3/2016
A pecuária de precisão é para mim?

Um chip intrarruminal prevê o dia do parto da vaca e manda um alerta para o celular do peão. O bezerro nasce e no umbigo dele é colocado outro chip que ajuda na cicatrização da bicheira. Enquanto isso, uma balança registra o peso do gado que caminha livre pelo pasto. Esses são alguns exemplos das tecnologias de Pecuária de Precisão que estão sendo desenvolvidas no Laboratório Mangueiro Digital da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS). Mas de que maneira isso muda a vida do produtor? É razoável pensar que essas ferramentas revolucionarão para sempre o que se faz porteira a dentro?
Pedro Paulo Pires, médico-veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Corte que coordenou os trabalhos de transferência de tecnologia do Laboratório nos últimos anos, falou ao Portal DBO sobre as possibilidades da pecuária de precisão no horizonte do produtor.
O que é pecuária de precisão?
Na origem, a precisão não depende da automação. O termo confunde e a gente chama de pecuária de precisão o que, na verdade, é a pecuária informatizada. Porque eu posso saber quanto o gado está ganhando de peso/dia levando o rebanho na balança do mangueiro, prendendo os animais e anotando tudo numa folha de papel. Aí, depois de pesados, eu desenho o gráfico de ganho de peso deles. Isso mostra que a pecuária de precisão pode ser feita à mão. Nosso foco hoje é automatizar ao máximo a parte zootécnica. Usando softwares, aplicativos, hardwares, analisamos um volume grande de dados e colhemos informações em campo sem mão de obra. Com o chip intrarruminal no caso das vacas, por exemplo, você consegue saber qual o dia do parto e estar mais preparado para intervir em caso de necessidade. Isso ajuda a melhorar a taxa de natalidade da fazenda e otimiza o trabalho dos funcionários.
Que outras linhas de pesquisa estão em curso?
Nós temos várias frentes de trabalho nesse grupo aqui que nós chamamos de Mangueiro Digital. São várias teses defendidas já. Tem um chip termômetro, software de acompanhamento do rebanho, desenho de um mangueiro anti-estresse. São muitos produtos, alguns deles estão no mercado e outros passando por processo de transferência de tecnologia para chegar ao produtor. Como a Embrapa não comercializa nada, nós precisamos de parceiros.
Estamos lançando agora, com a Coimma, uma balança de passagem para pesar o animal sozinho, livre em campo. Há alguns anos, a Saint-Gobain também colocou no mercado um transponder para identificação dos animais. O aparelho, conhecido como bolus, é um chip eletrônico que recebe ondas de radiofrequência e devolve um sinal codificado com o número do animal. Ele fica alojado no estômago dos bovinos, mais especificamente no retículo, e permite associar o número com todo o histórico que está gravado no software de controle de manejo, sanidade, fertilidade etc. Os dados são transmitidos sempre que o boi se aproxima de uma antena, geralmente instalada próxima aos bebedouros.
Como funciona a balança de passagem e qual o custo dessa tecnologia para o produtor?
Com a Coimma estamos fazendo a balança, mas para a balança funcionar é preciso o transponder, a leitora, o transmissor de dados e o software de computador; e cada uma dessas pequenas coisas são outras empresas que viabilizam. Nosso objetivo final é conseguir pesar o animal sozinho no campo e mandar esse peso, temperatura e localização a até 30 km de distância sem energia elétrica em linha.
Os dados são transmitidos usando energia solar, com os equipamentos funcionando em baixa voltagem. No escritório, chegam os dados de cada cabeça, conforme os animais vão se dirigindo para o bebedouro, e um gráfico aparece na tela. Um gráfico com as informações de cada animal. Depois, eu posso filtrar as informações como eu quiser. Filtro as cabeças que estão ganhando 500 gramas, 400 gramas, 1 quilo por dia, e aí eu manejo meu rebanho conforme o seu desenvolvimento.
O preço da balança não varia muito em relação ao de um equipamento comum. O que o produtor precisa é colocar o identificador eletrônico (bolus) em cada animal, o que já está sendo usado. Mas caso o produtor necessite comprar e ele esteja custando em torno de R$ 8 e o brinco, R$ 2, ainda assim vale a pena, porque o bolus é reaproveitável. Depois que o animal é abatido, você pode usá-lo de novo. Então, com quatro usos ele se paga. Uma vez instalado o bolus, é necessário comprar uma leitora que vai custar de R$ 2 mil a R$ 3 mil e tem que ter um computador. O software já vem com a balança.
Então, é uma tecnologia barata considerando seu custo-benefício. Em um primeiro momento o produtor tem que investir, é claro, mas sabendo investir o lucro é garantido.
Por que essas tecnologias não estão disseminadas entre a maior parte dos pecuaristas?
Uma barreira é a questão da novidade. Nós temos produtores que já usam, o preço não é impeditivo. O problema é que a grande maioria mantém as práticas tradicionais da pecuária extensiva. Então, isso vai acontecer com o tempo. Imagine que faz 15 anos que a gente trabalha com isso e lá atrás não tinha celular, smartphone, tablet, nada disso. Era mais difícil ainda. Hoje, todo peão já tem um celular na cintura. Um dos aplicativos que lançamos no ano passado, inclusive, foi o sétimo colocado em downloads no Brasil, então, muita gente usou. Foi o Suplementa Certo, e além dele existem outros, como o GerenPec, e também planilhas. A ControlPec permite fazer a gerência financeira da propriedade. Basta baixar e você calcula o custo-benefício de cada produto: vaca, bezerro, boi, se tiver outra espécie animal também.
A automação é indicada para todos?
Eu costumo dizer que o cara não pode comprar uma calculadora científica para fazer soma e subtração. Se ele comprar tudo isso, ele vai ter que, de verdade, gerenciar o rebanho. Ele não vai comprar só para contar e identificar as cabeças. Isso seria o mesmo que comprar uma científica para fazer contas simples, mas ele também não tem que ser um expert para apartar e saber quantos % do rebanho dele está perdendo peso com aquele pasto que ele trabalha. Ele vai ver isso no gráfico, é só olhar para ver. Temos tutoriais na internet e estamos trabalhando fortemente também com os técnicos. Se um técnico vier a um curso da Embrapa e aprender o conteúdo bem aprendido, ele vai viver daquilo, vai querer que seus clientes melhorem. Fazendo bom uso, o custo-benefício é garantido.
O que for sofisticado demais para chegar às fazendas, ainda assim, trará benefícios para os produtores?
Claro. A gente tem ferramentas que não vão para o campo tão cedo. Um exemplo são colares com GPS, termômetro e acelerômetro. Isso o produtor não vai usar, mas o pesquisador sim. Com esses aparelhos conseguimos saber qual pastagem o animal prefere, quanto tempo ele esteve em cada uma, quanto tempo em pé, deitado, ruminando. Se ele passou para beber água, se depois ficou deitado muito tempo na sombra, no sol. Isso para poder avaliar a adaptação da espécie, da raça, para cada condição do Brasil. Eu costumo dizer que um dia o carrapato vai deixar de ser problema. Hoje já há no mercado algumas vacinas que dão relativa proteção aos bovinos e existe, em Cuba, uma vacina que promete grande proteção. Quando controlarmos o carrapato, o Bos taurus virá com força para o Brasil-Central e teremos que conhecer, rapidamente, como essas raças produzem nas condições tropicais. Esse conhecimento será mais acelerado se tivermos como monitorar os animais em campo.
Qual a importância da pecuária de precisão hoje?
É o futuro. A pesquisa está sempre sediada no futuro resolvendo os problemas do presente. Isso não tem volta. É a mesma coisa que você dizer que a partir de hoje ninguém usa mais computador e que o telefone celular acabou. Isso é impossível. A mesma coisa vale para a identificação eletrônica, rastreamento e certificação do produto.
O boi fica no pasto hoje e você tem que saber quanto ele está engordando, se tomou vermífugo, se tomou vacina. Se a vaca está no cio, se o touro é fértil, se ele cobriu, se ela pariu. Nós vamos ter que produzir comida para o mundo e o mundo quer que nós produzamos com qualidade. Então não é só volume, é controle de qualidade da carne: saber a origem, agregar valor por conta da maciez, da suculência, da raça. O que o mundo quiser fazer, nós faremos. E a gente quer divulgar tudo isso para o pecuarista, para o comprador, o produtor de insumos, para todos.



Fonte: Portal DBO

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